21 janeiro 2015

Segundo Capítulo − Ele virou as costas... ✓



Because of you
I find it hard to trust

Not only me, but everyone around me
Because of you
I am afraid
− Kelly Clarkson in Because Of You

− É um álbum antigo, talvez do tempo em que ainda estávamos casados e felizes. – Justificou-se.
− Felizes? Vocês foram felizes, quando?
− Demetria, tu não conheceste bem o teu pai. Não fales assim dele! – Depois de tantos anos, Dianna ainda acreditava em coisas que foram impossíveis.
− Não conheci? Eu vi a mãe todas as noites repleta de hematomas, feridas, nódoas negras na cara. Mais tarde, o meu pesadelo começou, ouvir que tudo o que fazia era errado ou inútil. Lembro-me de cada palavra como se fosse uma corte profundo, de cada briga e sobretudo de cada hematoma que ele me fez. Ele nunca foi e nunca será o meu pai.

A porta foi batida com força, a besta chegara. O choro completaria, em breve, o silêncio calmo e receoso que havia por toda a casa.
− És uma inútil! – Um som de estalo ecoou. Aquilo doía-lhe tanto como se fosse nela. – E onde está aquela vergonha, de que és mãe? – A raiva era notória na sua voz.
Demetria dava pequenos passos, enquanto prendia o choro.
– Sabes uma coisa, peste? – As suas roupas tresandavam a álcool e havia a presença de batom vermelho na sua gola e pescoço, com certeza de alguma vadia que tinha fodido na esquina mais próxima. – Tu és uma vergonha para mim!
As lágrimas rolavam, o seu rosto sentiu algo ferver, era o começo de mais um inferno, que envolvia palavras violentas, cinturadas e estalos.
Se iriam ficar marcadas as cinturadas? Claro! Ela já tinha várias espalhadas pelo corpo.
− Vocês são uma vergonha para mim! Eu vou vos abandonar, para poder ir viver com a minha amada, a única pessoa que eu amo e que me ama. – Patrick traía Dianna, esse era o porquê de ele passar semanas fora e depois tudo virava uma tempestade escura. – Ela é melhor que vocês as duas juntas. Demetria fica a saber, a minha filha não é uma baleia como tu. – As palavras eram mais dolorosas do que todos os estalos. Ele virou as costas e subiu as escadas e carregou duas malas com ele. Dianna viu a pessoa que lhe prometeu um amor “até que a Vida vos separe” ir embora.
Demetria viu o seu pai, aquele que seria o seu herói quando caísse ao tentar equilibrar-se da bicicleta, o que contaria uma história nos dias de chuva, como naquele dia... Mas o seu coração singelo foi consumido pelo prazer do egoísmo.
Ele virou as costas...

As cicatrizes no corpo e no psicológico permaneciam nela, intactas e incuráveis.
Apenas os mais próximos sabiam que a mãe tinha um cancro e o pai tinha ido embora por puro egoísmo. Todos os outros pensavam que o seu pai tinha morrido antes de ter nascido, a mãe usava perucas para disfarçar a ausência de cabelo e as cicatrizes. Bom, ela mentia sobre as suas fístulas e disse que tinha sido “Um acidente na infância”.
− Demi, espera! – Demetria levantou-se do sofá e correu para o seu quarto e trancou-o. As lágrimas caíam descontroladas, o seu corpo amoleceu e foi deslizando lentamente pela porta branca. O seu desejo era poder trancar aquele pensamento numa caixa.
O seu telemóvel vibrou dentro do bolso, uma mensagem de Selena. Amanhã às quinze e dez no bar da rua.”, Demetria não tinha nem uma pontada de entusiasmo, mas era melhor ir que ficar em casa a pensar no que não devia.

Thursday, 09:15 a.m. Lovato’s House, Santa Barbara CA
Os raios de sol iluminaram o quarto, com toda aquela agitação tinha-se esquecido completamente de baixar as persianas.
As suas pernas pesavam imenso e o caminho até à casa de banho parecia longínquo. Algo obrigava-a a não se levantar ou andar, talvez um pressentimento.
Depois de tempos infinitos na casa de banho, desceu e procurou distrair-se com algum programa que passasse na TV. Não que algum prestasse.

Thursday, 02:47 p.m. Lovato’s House, Santa Barbara CA
Demetria tinha adormecido completamente, com certeza a sua mãe já teria almoçado e não a chamou. Correu para a cozinha e viu um bilhete preso por um íman na porta do frigorífico.

“Demi, não te preocupes comigo. Voltarei em breve.
Beijos, Mamã.”

Aquilo soava estranho demais. Respostas curtas vindas dela, não eram coisa boa.

Thursday, 03:15 p.m. Bar, Santa Barbara CA
O bar estava meio cheio por ser sábado à tarde. Demetria avistou uma pequena mesa no canto com alguns dos seus amigos.
− Olá, pessoas! – Sentou-se e reparar em alguém a mais. – O que é que ela está aqui a fazer?
− Olá, Demi. Bom, pergunta ao Jonas. – Selena olhava-o torto, poderia espancá-lo com o olhar se pudesse. – Não é, Sr. Inteligência?
− Bom, Demetria. – Tremeu. – Nós voltamos.
O sangue de Demetria ferveu por ser chamada de “Demetria” e ouvir “Nós voltamos.” tudo numa assentada. Ela virou a cara como uma manifestação de raiva e sorriu.
− Parabéns, pombinhos. – Sorriu ironicamente e levantou-se para pedir alguma coisa. O seu subconsciente pedia para que batesse com a cabeça na parede, para ter a certeza que era um pesadelo, só que seria burrice bater com a cabeça nas paredes. A burrice mais perigosa e estúpida era a dele. Depois de todo o choro e tudo mais, não era o suficiente para ser um “abre olhos"?
− Viste, Selena? Ela aprovou. Dá-me os meus cinquenta dólares.

− Se inteligência pagasse imposto, estarias endividado. – Selena bateu com a mão na testa. Jonas aguardava os seus cinquenta dólares.

Olá, meninas! Tudo bem? Desculpem, se ficou dramático demais, porque esse dia tinha sido uma bosta...
A partir de hoje os horários serão quarta, sexta e sábado, sim? Pelo menos, tentar cumprir.

Beijos.

Um comentário: