Antes de ler, coloquem para tocar
Mirror − Justin Timberlake. Cliquem >aqui<. Coloquem para
ficar repetindo, enquanto lêem. Vale a pena :) (Ah! Preparem os lencinhos Ç.Ç)
Sempre fui essa criança; sempre
tive esse redemoinho dentro de mim.
Mas o problema não é esse.
Pense em uma jovem.
Pense em um quarto novinho.
Agora pense em mim, e inclua
nesse pensamento o fato que eu retratei anteriormente.
São dez horas da noite e minha
jaqueta preta de couro está em cima da cama novinha. Estou vestindo uma calça
skinny preta com uma blusa branca da banda ramones; de frente para o espelho −
que reveste uma parede inteira de meu quarto novo. Passando lápis de olho
preto.
− Por favor, filha. −
começou minha mãe pela milésima vez em 17 anos. − Você tem que parar de ser assim. − e ela apontou para mim.
Desde que nos mudamos pela
milésima vez em 17 anos da minha vida, ela vem falando isso. Como se o motivo
de tanto mudança seja eu! Não sou eu que tenho que ser legal com todo mundo, e
no fim, me ferro, fico de mãos abanando. É ela! Ela que tenta dar o golpe do baú
em todos os homens que ela vê uma oportunidade de crescer na vida. Eu não quero
ser legal. Eu não quero ser ela!
Rolei meus olhos. E agora foi
minha vez de apontar para ela e fazê−la ver os reflexos de minha alma.
Ela na gostou do que viu.
E me bateu.
Pela milésima vez em 17 anos.
− De novo não! −
eu segurei seu pulso quando a palma de sua mão mirou meu rosto.
− O quê? Vai me bater? −
e ela gritou, tentando jogar toda sua culpa em cima de mim.
− Não. Não vou. Mas eu deveria! − esbravejei, apertando o pulso dela, mas tomando o cuidado em
não cravar minhas unhas em sua carne podre. − Que eu saiba, e que eu ouça, não seria a primeira vez. Mas deve
ser bem melhor do que apanhar de um homem, não é mesmo? − trinquei os dentes, inclinando a cabeça para o lado. − Não pense eu que gosto, por que eu
não gosto nem um pingo. − cuspi
no chão do quarto de hóspedes da casa do novo namorado de minha mãe.
Esse não é mais meu quarto
novinho...
− Você enlouqueceu? −
ela gritou, tentando se livrar.
− Quem enlouqueceu aqui foi você! − soltei−a, gritando.
E quando eu ia pegar minha
jaqueta, a porta do meu quarto abriu, batendo forte na parede.
− O que está acontecendo aqui? − o novo namorado da minha mãe gritou, entrando no quarto como um
furação só de cueca, parando na minha frente.
Seu furacão confrontando com o
meu.
Ele estava de costas para o
espelho e eu estava na frente do mesmo, olhando meu reflexo. Meu rosto estava
molhado, com a maquiagem borrada; e foi ai que eu percebi que eu chorava.
− Por que essa vadiazinha está gritando? − ele gritou. Irónico, não?! Mas a casa é dele...
− Não foi nada, Patrick... − minha mãe tentou toca−lo no ombro, mas ele a ignorou.
− Deixe para lá nada! Já é a décima vez que essa vadiazinha fica
gritando enquanto eu tento dormir. Essa putinha está precisando de uma lição. − e ele andou a passos lentos em
direção a mim, enquanto eu regredia e minha mãe silenciou−se, amedrontada.
Eu chorava rios enquanto andava
para trás, mas eu não soluçava. Meus soluços batiam no espelho da minha alma e
fazia meu corpo tremer. Até que o espelho quebrou. Tanto o da minha alma quanto
o do quarto de hóspedes.
Foi minha mãe.
Quando o enorme espelho explodiu,
cacos de vidro faiscaram por todo o quarto, fazendo Patrick se agachar no chão
e me fazendo ver reflexos de minha dor por todo lado. E eu gritei. Alcancei
minha jaqueta e vesti−a rápido, protegendo meus braços descobertos, e corri
para a porta ainda de olhos fechados. Mas quando eu abri−os, Patrick estava
desacordado, sangrando, deitado de bruços no chão e com um caco de vidro
enfiado em sua nuca. E minha mãe estava ao meu lado.
− Corra! − falou ela, ao meu lado, enquanto ouvíamos sirenes da
policia se aproximando. Com certeza os vizinhos ouviram a gritaria e chamaram a
polícia. Eu olhei para ela atónica. −
Corra, Demi! Pegue o carro e vá para longe! − e segurando meu rosto, ela me deu um beijo forte da bochecha,
comprimindo seus lábios em minha pele. −
Eu te amo, filha. − ela
chorava, depois de me soltar.
Abracei−a, chorando.
− Eu também te amo, mãe. −
apertei os olhos.
E sem olhar para trás, eu corri.
Mas assim que eu cruzei a porta
dos fundos, eu pude ouvir carros −
da polícia, claramente; estacionando em frente à casa.
Então,
eu pensei rápido e pulei a cerca que rodeava a casa do namorado da minha mãe e
fui para o quintal da casa vizinha que se encontrava todo escuro, já que estava de
noite. Mas bastou eu dar dois passos, que a porta dos fundos se abriu.
− Fugindo da polícia, Lovato?
(...)
− Ai! Pega leve, Joe! −
exclamei.
Ainda dava para ouvir as sirenes
na casa ao lado. Mas a dor que eu sentia pelo meu corpo me puxou de volta.
Merda!
Joseph.
Sem camisa.
Só de calça moletom.
Rindo da minha cara!
Pense em mim na cozinha do meu
vizinho.
Pense em mim sem jaqueta.
Pense em Joseph − meu vizinho; analisando os cortes
que os cacos de vidro do espelho causaram em minha pele branca.
Agora nele passando água
oxigenada em meus braços com um algodão.
− Isso arde! −
reclamei, puxando o braço.
Ele revirou os olhos.
− Pare de agir como criança e me deixe terminar. − Oh!
Quem ele pensa que é?
Eu não respondi. Fechei a cara e
girei os calcanhares.
Que se foda! Uma criancinha não
estaria na situação em que eu estava quando ele me encontrou. Fugindo da
policia!
Alcancei minha jaqueta nas costas
do sofá e sai pelas portas dos fundos da casa dele. Parei. Não para agradecer.
Mas para arrancar um pedaço de vidro que ainda restava de minha bochecha.
Sangue corria por minha mão e minha bochecha. Sangue corria em minhas veias. Um
sangue quente; quase me fazendo apitar como uma panela de pressão.
Foda−se. Eu já me estressei o
suficiente.
− Demi. − a voz
aveludada de Joe vibrou atrás de mim. −
Desculpe−me, ok? − Argh! − Você não agiu como uma criança. Eu
agi. Entre. Você não precisa ir hoje. Desculpe por ter pegado pesado.
Suspirei.
Eu estava cansada.
Muito.
E estava toda quebrada!
Girei nos calcanhares e olhei−o.
Esperando uma resposta vir até mim para eu entregar a ele.
Mas não foi a resposta que veio.
Foi ele.
Quando ele chegou até mim, sua
mão alcançou minha bochecha, meu sangue correndo junto com minhas lágrimas.
Foi ai que eu percebi que eu
chorava.
Joe me trouxe para ele e me
embalou com seus braços fortes.
Eu era baixa. Mais baixa que ele.
Minha bochecha ensanguentada sujou seu peito, e ele se curvou para me enrolar
completamente com seus músculos. Fechei os olhos. E quando eu os abri, eu
estava em cima do balcão de mármore na cozinha. Continuei agarrando Joe pela
cintura. Agora eu que estava curvada. Ele riu, mas deixou−se ser agarrado até
eu parar de chorar. Ele beijava meu ombro − Que era o que tinha em frente ao seu rosto; enquanto eu
oscilava abraçada ao seu corpo, em uma tentativa de me acalmar. Isso me fez
sorrir. Isso me fez parar de chorar. Agora sua bochecha também estava suja de
sangue. Eu beijei meu sangue ali.
− Agora me deixe cuidar de você, Demi.
Sim.
Desci do balcão e tirei os
sapatos, deixando eles ao lado do sofá. Certifiquei−me se eles estavam
corretamente alinhados e voltei à cozinha.
Joe me observava com um sorriso
no rosto.
Oh!
Corei.
− O que foi? −
aproximei−me dele e olhei seu maxilar. A barba estava rala, e isso o deixava
absurdamente sexy.
Seu sorriso não abandonou seu
rosto ao falar comigo.
Ele parecia encantado.
− Nada. − deu de
ombros e tentou reprimir o sorriso, em um biquinho. Eu sabia que sim, tinha
alguma coisa ali; mas eu não forcei a barra. Fui para frente da bancada e o
esperei vir até mim.
Oh merda!
Ele tinha agulha na mão.
Arregalei os olhos e meu coração
expandiu, tomando uma grande lufada de ar.
“
− Papai! − ela gritou, ao notar a enfermeira chegando com uma agulha.
O
pai sorriu. Eddie era um homem lindo. Ele foi à primeira paixão de Demetria.
−
Papai está aqui, florzinha. − ele apertou a mão da menina,
reconfortando−a. A menina mordeu o lábio
superior e o trouxe para dentro da boca. O homem riu; ela sempre fazia isso;
era uma maneira de se controlar.
−
Não vai doer, florzinha. − a enfermeira chamou−a pelo apelido, em uma forma
irritantemente doce.
Demi
fechou a cara em direção à mulher e rugiu:
−
Cale a boca! − Eddie gargalhou gostosamente. A mulher ficou estática. Uma mini
ferinha!
−
Uma mocinha não devia falar assim. − a moça falou, colocando um elástico no
braço estirado da menina.
−
Vá se foder! − o homem engoliu em seco e arregalou os olhos, tapando a boca da
menina, que o olhou com os olhos risonhos. Ele puxou o lábio superior para
dentro da boca, uma técnica que a menina percebeu que servia para se controlar.
Era reconfortante, fazer a mesma coisa, por que as manias que ela pegou dele, o
lembra.
A enfermeira enfiou suavemente a agulha em sua
veia, fazendo a mesma sugar seu sangue. Demi não desgrudou os olhos do pai, e
nem ele dos dela. A menininha de 10 anos de idade encheu os olhos de água,
prendendo o lábio assim como as lágrimas; e assim como seu pai.
Quando
a agulha saiu de sua pele; ela soltou o lábio, mas não soltou a mão de seu pai;
deixou−o limpar suas lágrimas.
Observou
a enfermeira tirar um pouco de sangue dele, assim como fez com ela.
Demetria
não soltou a mão dele.
Quando
chegou a casa, dormiu na cama de seu pai, agarrada ao homem; enquanto sua mãe
se agarrava com outro, fora de casa.
Eddie
não dormiu naquele dia, observou a menina; calma, agarrada ao seu braço forte e
com as pernas enlaçadas as seu tronco.
Ele
sorriu.
Ele
sabia que ela era sua. E ao menos tempo que ela não era.
No
dia seguinte, com o resultado dos exames em mãos, Eddie o abriu.
Eddie
chorou. Quebrou tudo dentro de casa, irado de raiva; enquanto Demetria chorava
escorada á porta do seu quarto.
Ela
tinha só 10 anos, mas sabia o significado de exame de DNA.
E
ela sabia o significado da ação do seu pai. Seu Eddie.
Demi
não soluçava; o som dos objetos quebrando na sala eram seus soluços. Seu e do
seu pai.
Ouviu
sua mãe chegar.
Ouviu
sua mãe gritar.
Ouviu
sua mãe chorar.
Ouviu seu pai sair de casa e nunca mais voltar.
“
− No que está pensando? −
Joe perguntou, enquanto esquentava a agulha no fogo e a esterilizava.
Tomei uma grande lufada de ar e
limpei meus olhos para me certificar que não chorava. Soltei o ar.
− Nada.
Quando ele se virou, sorrindo e
vindo até mim, puxei o lábio superior para dentro da boca.
Ele me explicou o que faria
comigo, e eu idiota deixei!
Mas ele estava certo. Precisava
ser feito.
Joe deixou a agulha em uma
bandeja metálica, que me lembrava de hospital, e colocou as mãos na minha
cintura.
− Venha. − me
ergueu, deixando−me sentada no balcão de novo.
Argh! Ele me manuseia como bem
quer. Como uma boneca de pano. E com o cuidado de uma boneca de porcelana.
− Você não vai precisar de muitos pontos nessa bochecha, mas vai
doer. Não tenho anestesia aqui. −
mordeu o canto da boca. Eu fiz careta, segurando firmemente a borda do mármore,
buscando ser fria como isso que tenho em mãos. − Mas vamos, eu sei que você é
forte.
Oh!
Eu não estou certa disso, não.
Ele passou um líquido escuro da
minha bochecha.
− Importa−se? −
falou, se referindo as minhas pernas devidamente fechadas. A distância do meu
rosto dificultava para ele, e deixava−o sem jeito, desconfortável.
Balancei a cabeça.
− Não. − separei
um pouco as coxas. Ele ficou envergonhado. Eu gargalhei.
− Vem. − puxei−o,
com meus pés em suas costas, até ele ficar perto de mim. Sorrimos, corados.
Sua bochecha estava suja de
sangue, e com uma coloração rosada. Eu ri. Ele estava tão fofo. Ele abaixou o
olhar e viu minhas mãos agarradas ao mármore.
− Segure−se em mim. −
ele pediu, olhando firmemente em meus olhos. E eu obedeci como se não fosse um
pedido, e sim uma ordem.
Minhas mãos se apossaram de suas
costelas nuas, mas não estava frio como um mármore, estava quente. Quente como Joe.
Delicadamente, ele começou a perfurar
minha carne com a agulha, e eu apertei minhas mãos em sua pele, e como uma
agulha, minhas unhas perfuraram sua carne, enquanto eu fechava os olhos e
travava minhas pernas envolta de sua cintura.
Oh foda−se! Isso dói como o
inferno!
Ouvi seu sorriso enquanto
terminava o serviço. É como um breve riso nasalado, e é isso, ele está sorrindo
depois disso.
− Terminei. − ele
falou, minutos depois de tirar as mãos de mim.
− Terminou? − não
abri os olhos, mas tive vontade de arregala−los. − Isso ainda dói! −
era como uma forma de controlar a dor, de olhos fechados.
Ouvi−o fechando o kit de
primeiros socorros que estava ao meu lado, no balcão, enquanto ele ainda
permanecia aprisionado entre minhas coxas.
− Olha, eu não estou reclamando, mas será que dá para me soltar
um pouquinho? − nós rimos, e eu
o soltei, abrindo os olhos. −
Preciso guardar a bagunça que fiz aqui. E em você. Precisa tomar banho e tirar
esse sangue seco e pedacinhos de vidro que ainda ficaram em seu corpo. E eu vou
comprar um anti−inflamatório na farmácia.
De novo, suas mãos pousaram em
minha cintura e me desceram da bancada.
Eu fiquei olhando para seu rosto
encantador enquanto ele não parava de falar.
− Tem toalhas novas e limpas no banheiro, pode usar o banheiro do
meu quarto. Segundo andar, fim do corredor à esquerda. No meu closet tem roupas
minhas, pode usa−las. − ele
ainda não tirou as mãos da minha cintura? − Eu vou na farmácia comprar os
medicamentos e volto logo. −
ele tirou as mãos da minha cintura. Volta! − Eu ainda não fiz o curativo, portanto pode lavar o rosto, mas
com cuidado para a água não cair diretamente no corte. − ele ia sair pela porta quando eu o chamei.
− Ei, tagarela. −
ele riu. − Não tá esquecendo−se de nada, não? − arqueei a sobrancelha, olhando para seu tronco nu.
Ele pensou.
− Estou? − eu ri.
− Vai sair pelado na rua?
Ele olhou para o tronco. Depois
para mim.
− Eu não estou pelado!
Revirei os olhos.
− Vá vestir uma blusa, homem!
Ele riu, e pegou uma blusa jogada
no sofá.
Piscou para mim e saiu. Pela
porta da frente.
Suspirei, rindo comigo mesma
enquanto balançada a cabeça.
Depois algo me bateu.
A
realidade.
(...)
Pense em mim deitada na cama
casal de Joe, pensando enquanto ele faz um curativo na minha bochecha.
Pense em mim usando um casaco
moletom. Só um casaco, pois ele é até a cima dos joelhos. Estou com calcinha.
Pense em mim calada olhando para
o teto enquanto ele faz um curativo em mim.
Joe é casado.
Joe tem 28 anos.
Joe tem uma filha.
Isso não devia me chocar tanto,
eu sei. Ele tem
uma família! Isso devia ser bom; é
bom! Mas não
agora, não para mim.
Eu vou embora pela manhã; decido.
Essa decisão ardeu em meu
coração.
− No que está pensando tanto? − Joe pergunta, me trazendo a realidade. E eu percebo que ele já
tinha parado de fazer o curativo há minutos, e estava me olhando.
Quero perguntar sobre a família
dele, sobre o que elas vão achar. Sobre as roupas de mulher em seu closet,
sobre o quarto de menina ao lado do dele. Sobre ele.
As únicas coisas que sei dele nem
foi ele que me contou!
Eu só descobri por que eu também
tinha isso!
Por que eu vi!
Por que eu estou na casa dele
depois de ter acabado
com a minha! Acabado com algo que nem era meu!
Levanto de sua cama repetindo
para mim mesma: “idiota, idiota,
idiota...”
− Posso ficar no sofá durante essa noite? − pergunto, com a voz tão baixa quanto meu orgulho. − Eu vou ao amanhecer.
Ele levanta da cama rapidamente.
Ele ia falar algo, mas repensou e
falou outra.
− Vai para onde? −
ele não ficava bem com essa blusa. Alias, com blusa nenhuma!
Eu pensei em pensar na minha avó,
na minha tia, na minha família. Mas eu não tinha.
Então eu menti.
− Eu tenho família, Joe. −
forcei um sorriso que eu tinha certeza que ia convencer. Sempre convence.
A gente continuou se olhando.
Então eu desviei o olhar e desci as escadas. Vai que ele descobri o que estou
pensando e descobri que eu menti...?
(...)
− Você precisa comer. −
ponto. Eu comi e agradeci. Voltei para o sofá, mas não dormir.
Joe me trouxe um travesseiro e um
edredom. Eu sorri e ele subiu.
É isso.
Deitei no sofá e me cobri toda,
deixando só o meu nariz para fora.
Pensei em pensar na minha família
de novo, tentei; as únicas coisas que vieram em minha cabeça foram minha mãe e meu pai que nem era meu pai!
Fechei meus olhos e tentei
dormir, as luzes estavam apagadas. A casa estava escura. Ninguém poderia me
ver.
Eu chorei.
Já estava tarde, o quarto de Joe
é longe e no segundo andar, ele não conseguiria me ouvir.
Eu não consegui evitar. Um soluço
irrompeu pela minha garganta, seguido de outro, outro, e muitas lágrimas.
Descobri apenas meu rosto, por
que estava difícil respirar.
Chorei. Solucei.
Dormi.
Essa era minha única libertação.
Eu tirei todos os pedaços de
espelho da minha pele, mas eu sentia que eles ainda estavam lá, me fazendo
sangrar, me rasgando enquanto me mexo.
Refletindo minha dor.
Acordei com a primeira luz do sol
passando pela cortina.
Olhei para o relógio. Cinco da
manhã.
Hora de ir embora.
Passei minhas mãos pelo meu rosto
e fiz careta quando passei por cima do curativo. Não era só isso que doía.
Eu deixei um último soluço sair
pela minha garganta.
Hora de acordar. Hora de
enfrentar o mundo.
Ser forte de dia e fraca durante
a noite.
Ser um muro para quem ver e
desmoronar enquanto não veem.
Era para ser assim.
Levantei do sofá macio e olhei
para porta.
Oh!
Joe estava lá. Escorado na porta,
com os olhos vermelhos e com olheiras. Ele continuava lindo. Seu cabelo
desgrenhado chamavam minhas mãos. Mas isso não ia acontecer.
Eu tinha que ir. Eu ia embora.
− Eu vou embora. −
avisei, calma.
Ele olhou para mim. Seus lindos
olhos verdes estavam cansados.
− Não. Você não vai.
Oh!
(...)
− Que?
− Você não vai embora. −
repetiu.
Ora!
− Lógico que vou. − cruzei os braços.
− Você nem sabe para onde ir! − bagunçou o cabelo, parecia nervoso.
Fiquei calada.
Era verdade.
Mas eu não iria ficar. Eu não sou
minha mãe.
− Não, eu não sei. Mas eu não vou ficar. Eu não posso! Joe, você
tem uma família, e não serei eu a acabar com ela!
Ele arregalou os olhos, e rugiu:
− Ela já está acabada! Demi, pelo amor de Deus!
E foi ai que eu parei. Que?
− Que? −
perguntei, enquanto pegava minha calça que eu deixei no sofá e colocava. Qual
é?! Não dava para ver nada! O casaco ia até o joelho praticamente!
Ele parou para observar. E depois
olhou de volta ao meu rosto.
− Eu sou separado, Demetria. Desde que eu descobri que minha
filha não era minha. − sua
cabeça caiu.
Oh não!
Depois de colocar a calça, eu foi
até ele e pousei a palma de minha pequena mão na bochecha dele que antes tinha
meu sangue, e levantei, mergulhando meus dedos nos cabelos pretos dele.
− Quanto tempo? −
sussurrei.
Seus olhos penalizados caíram
sobre os meus.
− Três anos.
− Quantos anos ela tinha? −
minha voz quase não saiu. Meus olhos mergulharam na imensidão dos olhos dele.
− Sete. − eu
finalmente consegui respirar.
Mas eu não falei mais nada.
Peguei minha blusa e fui para a cozinha. Não queria continuar muito na casa
dele. Vesti minha blusa e voltei para ele, que estava no sofá.
Não me aproximou dele. Fiquei na
porta. Ele olhou−me.
− Ela sofre. Volte para ela, Joe. Vá procura−la. − formou um nó em minha garganta.
− Por quê? Como sabe que ela me quer de volta?
− Por
que era isso que eu queria que meu pai tivesse feito.
E sai pela porta. Olhando para
casa do meu lado, a que antes eu chamava de minha. Eu não podia voltar lá. Eu
não tinha para onde
voltar!
Então eu apertei a minha jaqueta
em minhas mãos, como eu fazia com a mão do meu pai quando tinha medo. E mordi o
lábio superior, trazendo−o para dentro de minha boca, como eu fazia para me
controlar quando eu queria chorar.
(...)
Sai andando pelas ruas até quando
senti meus pés cansarem, então sentei na calçada.
Oh! Eu também estava com fome e
com sede.
Certifiquei que na minha jaqueta
tinha ao menos umas notas de dinheiro e deu para comprar apenas uma garrafinha
de água e um almoço.
Eu não merendei.
Minha merenda foi minha dor.
E minha janta também.
Pensei em alguém para pensar, mas
só vinha as mesmas pessoas de sempre.
Eddie.
Dianna.
E agora, Joe.
Mas eu não tinha em que
pensar.
Eu não podia e nem iria voltar
para nenhum deles.
Eu não tinha para quem ou
para onde voltar.
Então eu segui em frente.
E dormi em algum lugar por ai.
Sempre com meu corpo refletindo
minha dor.
(...)
Eu dormi em um parque.
Uma meninazinha me acordou.
Ela sorriu para mim.
− Oi. − sorri.
− Oi. − ela
sorriu.
Olhei em volta e não tinha
ninguém naquele parque. Ou melhor, tinha; mas todas já estavam com suas
respectivas famílias.
Ela sentou do meu lado.
− Como se chama? −
perguntei. Ela era linda.
O cabelo era ruivo, enquanto o meu
era preto e liso, o dela era ondulado. Os olhos dela eram castanhos claros,
enquanto os meus, pretos. Ela era branquinha, como eu. Mas minha pele estava
calejava, enquanto a dela novinha em folha. Ela vestia um vestidinho floral,
verde, linda! Enquanto eu, a mesma roupa de sempre.
− Mellissa. −
sorriu. − E o seu?
− Demetria.
Ela olhava meu curativo, e para
agilizar o processo, eu falei para ela:
− Eu me cortei sem querer.
− E quem fez o curativo?
− Um amigo. Ele é médico.
Verdade. Ele me contou enquanto
fazia meu curativo.
− Você gosta dele? −
perguntou, tocando minha bochecha machucada de leve. Eu ri. Menina esperta!
Mas quando eu ia responder,
alguém chamou−a:
− Mel! Venha para perto de mim! − uma mulher gritou, com um homem loiro do lado.
− Já vou, mamãe! −
gritou, e se levantou. − Tchau,
Demetria. − acenou, sorrindo.
Eu retribuo.
− Tchau, Mellissa.
E ela voltou para sua família.
E nessa hora eu pensei em voltar
para a minha, mas eu me lembrei de que não tinha uma.
(...)
2 dias se passaram e eu
continuava vagando, procurando meu lugar, nem sabendo qual era esse lugar! Mas
eu continuava andando, mesmo fraca, por ter passado dias sem comer ou beber.
Nunca mais voltei para aquele
parque.
“Tinha gente demais, lá. “. Essa
era minha desculpa.
“Vão famílias demais,
lá. “. Essa é
a verdade.
Estava andando por ai, até que eu
parei em um boliche e vi a seguinte placa: ‘’Contratam−se
pessoas, não necessita experiência. ’’.
E eu entrei.
Aquela era minha chance.
Fui atendida por uma jovem, acho
que da minha idade, morena.
− Posso ajudar? − sua voz era
meiga.
− Pode sim. Eu vi lá na placa que
estão contratando.
− Acabaram as vagas, desculpa.
Quando eu ia saindo, a voz de um
homem me chamou:
− Ei!
Virei−me. Era um homem de meia
idade, charmoso. Ele sorria.
− Você é bonita.
Que? Eu estava 2 dias sem tomar
banho ou trocar de roupa! A última coisa que eu precisava agora era de um
elogio.
Ele percebeu.
− Oh. Desculpe. Meu nome é
Charles Slow; o dono. − ele esticou a mão para me complementar. Assim foi
feito.
Ele parecia interessado.
É, eu também estava.
Não nele, claro! Qual é?! Ele já
tinha seus quarenta anos e sua barriga uns 50! Ele merecia mais. E eu também.
− Prazer em conhecê−lo. − tá. Eu
estou um pó. Mas eu podia ser educada.
− Vou logo ao ponto. − tirou sua
mão da minha e passou pela sua careca, enquanto seus olhos me analisavam. −
Você está contratada.
Oh; sim.
Eu sorri.
Ele sorriu.
A atendente também sorriu.
É.
(...)
Faz quatro dias que eu estou
trabalhando lá.
Emprego. Ok.
Almoço. Ok.
Tá, não era um almoço, era um
lanche na lanchonete do boliche. Mas valia.
Charles era simpático, porém
rígido.
Funbal. Sei que é um nome tosco,
mas era o que era. O nome do lugar.
Uma tentativa falha de abreviar
diversão com bola. Era patético. Mas era divertido. É; Charles conseguiu o que
queria.
O lugar era amplo, preenchido com
pistas de boliche de madeira devidamente lustradas. Na extremidade direita
ficava o balcão onde a atendente que falei ficava Selena, descobri eu no
mesmo dia que esse era o nome dela. Atrás do balcão, várias prateleiras de
madeira ocupavam o lugar, e nelas, diversos sapatos com variados números. No
lado esquerdo, ficava a cantina. Descobri que quem comandava ela era um menino
lindo, alto e moreno, com os cabelos de anjinho cor de mel. Seu sorriso também
era de anjo quando me entregava o lanche que pedi − que era sempre uma coca−cola
grande, e tacos com bastante queijo. Era o céu na terra!
A gente não precisava e nem tinha
um uniforme. Essa era a intenção. Já que o público do lugar é mais jovem, nada
melhor do que as pessoas que trabalha lá ser do mesmo nível, não?
E nesse lugar todo, onde eu me
encaixava? Na área das crianças, tem lugar melhor?
Três pistas menores são
reservadas aos iniciantes. Mas é óbvio que os iniciantes não vão para lá! Por
isso eu prefiro falar ‘’Área das crianças’’, e não ‘’Área dos iniciantes’’. E
também, por que só vão crianças para lá. Bem, elas não vão. Elas são
praticamente jogadas lá! Ou pelos irmãos mais velhos que são obrigados a ficar
de vigia do mais novo, ou pelos pais ou mães sacanas que vão a um lugar,
praticamente um refúgio dos jovens, para impressionar a mais nova(o) peguete, e
dissimular a sua idade para ela(e). Ou para si mesmo. Creio mais na segunda
opção.
É. Eu gosto do meu trabalho.
Bem, crianças de 7 á 10 anos é a
faixa etária de quem eu cuido. Isso é minha fraqueza.
Elas choram, reclamam, batem o
pé. Mas eu as animo. Elas gostam de mim. Por que eu provo e explico que os
verdadeiros iniciantes não são eles, e sim quem está nas pistas maiores. Eles
ainda insistem que ali não é o lugar deles.
Estão certos.
Todos eles.
Ali não é o lugar deles.
Ali não é o meu lugar também.
Pena que a vida não tem uma ‘’Área para
iniciantes’’.
Por que se tivesse, eu gostaria
que tivessem me levado para lá, ou até me jogado lá. Eu não me importaria.
Ao invés disso, me jogaram logo
para a área de adultos. Jogaram−me na pista de boliche, entre os pinos, e não
param de jogar bolas em mim, me derrubando incessantemente, e me obrigando a
levantar para a próxima partida.
(...)
O problema do meu trabalho, é que
eu ainda não consegui alugar um lugar para morar. O salário é pouco, e eu ainda
não completei nem um mês para receber meu primeiro salário.
Ainda durmo na rua.
Ainda fico com a mesma roupa.
Mas tomo banho no banheiro do
boliche.
− Demi. − Charles chamou−me, ele
parecia sério.
Dei uma bola de boliche de adulto
a um menininho de 8 anos e ele estava tentando levantar.
− Algo errado, senhor Charles?
− Sim.
Oh!
Ele me levou para a sala dele,
que ficava no fundo do salão.
Era simples, pequeno, mas
privado.
Eu estava suando frio!
− O q... − ele me interrompeu.
− Onde você mora?
Merda!
‘’ No dia seguinte ao incidente na
casa de Patrick, os noticiários apitavam em meu ouvido.
− Dianna Lovato, foi presa ao
confessar autoria de um assassinado na noite de domigo em... − parei de ouvir.
Eu sabia onde era. Minha mãe estava presa!
− Dianna Lovato, após assumir ter assassinado
Patrick Golden, um homem de 32 anos na qual morava junto com ela, ficará presa
por 10 anos no presídio Bleyer Mouch. Após argumentar que foi legítima defesa,
e confirmar isso ao mostrar marcas de cicatrizes de espanco, sua pena foi
diminuída a metade. Concluindo assim, cinco anos de prisão. ‘’
Oh cristo!
Minha mãe foi presa.
E para assinalar meu choque, eu
não fui citada! Minha mãe poderia dizer a versão completa do incidente, citando−me
e se safando da pena de prisão. Mas não. Ela aceitou, foi presa, e nada mais
foi dito.
Ela escolheu ser presa!
Por quê?
Ela estava se
castigando!
Ela estava se castigando!
Ela estava se castigando!
E eu fiquei repedindo isso até
entender.
Eu também queria estar presa. ’’
Fiquei olhando para a pança do
homem sentado na cadeira a minha frente e pensando no que responder.
Céus! Ele devia fazer um regime!
− Em nenhum lugar, senhor. −
minha cabeça pesou, com as lembranças que tive na rua, mesmo por poucos dias.
Minha testa se curvou e olhou para o chão.
Eu estava cansada.
Não dormia e nem comia direito.
Eu era o resto da minha dor. Ou
ela por completo.
Pensei um pouco e concluir:
Eu sou o reflexo da minha dor.
− Como assim, em nenhum lugar? −
ele se chocou.
Tirei minha jaqueta e deixei ele
ver minha pele machucada.
Eu estava um caco.
E foi exatamente esse caco que me
cortou.
Eu não usava mais o curativo;
estava velho. Os pontos arrebentaram, e ficou apenas uma cicatriz pequena.
Ele viu meu estado deplorável,
mas esperou.
− Eu estava no incidente da Rua
Blander. − oh sim, ele sabe do que eu estava falando. Todos sabem do incidente
da Rua Blander! Ele esperou. − Minha mãe é a Dianna Lovato, a ‘’assassina’’. −
rolei os olhos. Ela era tudo, menos isso.
Quem o matou não foi minha mãe.
Quem o matou foi o espelho.
Quem o matou foram os reflexos da
minha dor.
− Ela estava tentando me ajudar. −
eu não o olhava. − Meu padrasto ia me espancar como faz com ela. − agora eu o
olhei, e pude ver seus olhos úmidos.
Não chore, seu velho barrigudo!
Essa dor é minha!
− Minha mãe quebrou o espelho e
um caco de vidro cravou em sua nuca. Assim como em minha bochecha e em meu
corpo. Ela me mandou correr, e eu assim o fiz. Desde então estou nas ruas. −
uma lágrima saiu de meu olho e acariciou a pequena cicatriz em minha bochecha.
Deixei−a lá.
− Mas ela não disse nada sobre
isso. − ele alegou. Mas eu sei que ele acreditou. Era a verdade. − Se é como
você diz, ela não precisaria estar presa. Ela preferiu ser presa a dizer a
verdade.
− Eu sei. Ela queria se castigar.
− continuei: − Eu também preferiria estar presa, se quer saber.
Minutos em silêncio. Ele me
estudando.
Cansei de ser analisada.
Peguei minha jaqueta que deixei
nas costas da cadeira e coloquei−a, saindo pela porta sem o olhar.
Acabou.
− Você não tem mesmo para onde
ir? − sua voz me parou.
− Não. − minhas costas
respiraram, e depois voltaram a cair. Eu estava acabada. Pareciam que estavam
segurando e apertando minha glote.
Não larguei a maçaneta da porta e
nem o olhei.
Ouvi−o levantar da cadeira e
parar trás de mim.
− Fique. − ele pediu, posando sua
mão em meu ombro.
Isso basta.
Pense em mim segurando a maçaneta
fria em minha mão.
Pense em mim em lágrimas.
Pense em mim puxando meu lábio
superior para minha boca.
− Tudo bem.
Não. Não está tudo bem.
Irrompo pela porta e corro para a
rua.
Corro.
Corro até cansar.
Me apoio em um poste e sinto
minha pele oscilar, palpitando.
Sinto braços fortes me virar e me
cobrir, apertando−me contra seu corpo forte.
Sinto o cheiro.
Nick.
Deixo−o me apertar a vontade, e
subo minhas mãos para seus cabelos de anjinho.
Sim. Eu ainda sou mais baixa que
ele.
Sim. Eu ainda estou sentindo seu
cheiro.
Sim. Eu ainda estou com a cabeça
enfiada em seu peito.
Aperto seus fios macios em minhas
mãos; e ele sobe uma mão de minha cintura para minha nuca. Toma meus cabelos em
suas mãos e aperta−os entre seus dedos.
Conto minha história para ele,
ela sai abafada e em cortes, por que estou chorando e ainda permaneço com a
cabeça em seu peito, e com minhas mãos em seus cabelos.
− Venha para casa comigo. − ele
sussurra. E eu sei que parece meu estranho e que eu não devia aceitar.
Mas eu aceito.
E isso é tudo.
(...)
No fim do expediente, dez da
noite, Nick me pegou arrumando minha área e segurou minha mão, sorrindo para
mim.
Ele me levou até sua casa, não
era tão longe.
No caminho ele me contou que
tinha 20 anos, e que arrumou seu cafofo com a herança que seu avô o deixou
quando morreu.
Seu avô era um pai para ele, e
ele perguntou sobre o meu.
− Eu não sei. − e era verdade.
É. É isso.
Falei, puxando meu lábio superior
para dentro da boca.
É.
Sua casa é bonita, tem uma
varanda de madeira antes da porta, e as paredes são brancas. Ela tem dois
andares. Todos da mesma cor, e belamente mobiliado. Branco com preto. Era
simples, mas era lindo.
Era Nick.
− Você pode ficar com o quarto de
hospedes. − sorriu para mim. − Considere essa casa sua, ok? Quero que você se
sinta a vontade. E se insistir, eu lhe faço cocegas até assim ser. − ele falava
sério.
Eu ri.
Depois de meia hora mostrando−me
a casa, ele me deixou no quarto de hóspedes.
Não. Eu não ia ousar em chama−lo
de meu.
Ele tinha um banheiro, e estava
todo mobiliado como a casa. Preto e branco. O banheiro também.
Entrei nele e o tranquei.
Certifiquei que tinha uma toalha limpa e nova ali, e entrei no chuveiro.
Oh!
Meus antebraços colaram no
azulejo do banheiro, na frente do meu rosto, e minha testa ficou entre minhas
mãos.
Fechei os olhos.
Quase dava para ouvir a água
batendo em minhas costas e fazer ‘’tsc, tsc, tsc...’’
Ah!
‘’ − Uma mocinha deve se portar
corretamente, ok? − minha mãe citava para mim.
Por favor! Eu nem havia menstruado
ainda! Não era mocinha coisa nenhuma! Eu era criança. E era assim que era para
ser.
Mas não era.
− Fellipe está chegando, Demi.
Escolha: quarto, ou sala?
Era sempre assim. Eu escolhia entre
ficar trancada no quarto e fingir que não existo, ou ficar na sala e conhecer o
homem novo da minha mãe.
Eu sempre escolhia quarto. Óbvio! E
ela sabia disso; por que eu deixava claro a minha antipatia para minha mãe.
Ela esperava ouvir: ‘’Quarto’’
Ela queria ouvir isso!
Mas não foi isso que entrou pelos
seus ouvidos.
− Sala.
O que aconteceu, é óbvio!
Eu estraguei tudo!
E o que aconteceu a seguir foi mais
óbvio ainda, e se repetiu por todos os anos seguintes, mesmo eu não escolhendo
mais ‘’Sala’’. Ela não me dá mais essa opção. Ela não me dá escolha nenhuma!
Eu apanhei.
− Sua vagabunda! Como pôde fazer
isso? − ela estava com um cinto na mão. Com certeza de algum macho dela que
deixou por lá.
O couro escuro bateu em minhas
pernas. ‘’Tsc’’
O couro escuro bateu voltou a bater
em minhas pernas. ‘’Tsc’’
De novo. ‘’Tsc’’
De novo. ‘’Tsc’’
E de novo. ‘’Tsc’’
Mas o que eu podia fazer?
Por mais que ela pense que eu sou
capaz, eu não sou. Eu não iria bater nela, e nunca vou.
De novo. ‘’Tsc’’
Minha perna sangrava.
Mas ela estava irada de raiva!
Ela não parava.
− Isso dói, sua vaca? − ela falava
entre dentes, enquanto continuava a me surrar. − Dói? Diz que está doendo!
Não. Não era isso o que mais estava
doendo.
Era meu coração.
Toda chicotada que ela dava em mim,
se transferia diretamente para o meu coração.
Mas estava doendo.
Muito!
Eu pulava para tentar fazê−la errar
alguma, mas ela só repetia:
− Isso dói, sua vaca? − ela falava entre dentes, enquanto continuava
a me surrar. − Dói? Diz que tá doendo!
Eu já chorava. Muito.
E eu falei.
− Dói. Mãe, para! Está doendo, mãe!
− eu não parava de chorar.
Merda! Ela não era minha mãe!
Ela parou de ser a partir daquele
momento. Não importa por qual motivo ela estava fazendo aquilo.
Ela parou de ser minha mãe.
E eu também parei de chorar.
Parei de tentar me esquivar ou
colocar minhas mãos no meio para aliviar as chicotadas.
Mas por que eu não parei de ama−la?
O couro fez meu coração ir para
minha pele, e ela que estava bombeando meu sangue agora. Ela oscilava como um
relógio ‘’Tic, Tac, Tic, Tac...’’.
Não. Não era ‘’Tic, Tac’’
Era. ‘’Tsc, tsc, tsc, tsc...’’
Abri meus olhos como se estivesse
levando uma chicotada, e em um solavanco sai da água, como se fosse fogo, e não
água.
Argh!
Malditas lembranças.
Desliguei a torneira, e me olhei
no espelho em cima da pia.
Vi o reflexo da minha dor.
− Demi! − Nick exclamou. Ele
estava no quarto. − Deixei uma muda de roupa para você. Está em cima da cama. − e saiu.
Suspirei.
(...)
2 semanas se passaram e eu recebi
meu primeiro salário. Mas tinha mais que o esperado.
Fui falar com Charles.
− Eu recebi mais que o combinado,
Charles. − expliquei.
Ele sorriu.
− Digamos que é uma recompensa
pelo bom trabalho. − ele colocou as mãos em meus ombros. − Sabia que você faz
as crianças quererem voltar?
Eu percebi.
Mas fiquei calada.
− Vá reestruturar sua vida, Demi.
E eu fui.
Selena se tornou uma grande amiga
para mim. Ela me emprestou roupas novas, e me cedeu uma grande amizade. Ela e
Nick.
Chamei os dois para ir ao
shopping, e nós fomos em um dia de folga.
Torrei a metade do meu dinheiro
em roupas novas e sapatos.
Eu merecia me reestruturar.
Começar a cuidar de mim.
E assim eu fiz.
(...)
Se eu pensava em Joe?
Se eu pensava na minha mãe?
Se eu pensava em Eddie?
Sim. Mas o trabalho ocupava minha
mente.
− Demetria! − uma menininha ruiva
veio até mim. Ela corria, se soltando da mão de um homem e vindo até mim.
Mellisa.
Eu abri um enorme sorriso,
enquanto ela se espremia entre meus braços e agarrava minha cintura.
Foda−se! Eu senti muita saudade!
Essa menina me pegou de jeito.
− Mel! Por onde andou, gatinha? −
me separei dela, a olhando nos olhos.
− Eu conheci meu novo papai,
Demetria.
Eu estava sentada em um banco
baixo, e quando ela veio correndo até mim, ela se encaixou entre minhas coxas,
e meu rosto só ficava um pouco mais alto que o dela.
Eu estranhei.
As pequenas mãos da menina se
apoiaram em minha coxa, tentando sentar nela. Eu ri gostosamente, e a ajudei a
subir.
− Sério? − me fiz parecer
interessada.
Eu aqui a procura do meu. E ela
achou o dela.
Qual é?!
Eu não sou burra! Capto as coisas
rapidamente desde aos 10 anos!
Não me culpe. Sei exatamente o
que ela quis dizer com ‘’Meu novo pai.’’.
O original.
O biológico.
− Sério. − uma voz vibrou atrás
de mim, e eu não precisei virar para ver de quem era.
Joe.
(...)
Oh Deus!
Ele foi atrás dela.
Ele foi atrás dela!
Mellissa era filha do Joe!
− Gatinha, quantos anos você tem?
− ela mexia no meu cabelo.
Ela olhou para o lugar que
antigamente ficava o curativo, na minha bochecha. Ela lembrou. E passou os
dedos na minha pequena cicatriz.
− Ficou uma cicatriz aqui. − ela
balbuciou. Eu sorri.
Joe foi para minha frente e
sorriu.
Era o mesmo sorriso que ele me
deu quando eu olhei para ele na cozinha, depois de deixar meus sapatos perto do
sofá.
Oh!
O brilho estava lá novamente.
− Gatinha, sei que você está
entretida, mas me responde. − brinquei com o nariz dela, e ela franziu o mesmo.
− 10. − ela mostrou nos dedos.
Olhei nos olhos de Joe, que agora
estava ajoelhado. Ele não mentiu.
− Eu não menti. − ele falou, para
reforçar.
Fiquei parada, com Mel em uma
perna minha brincando com meu cabelo, e analisei a roupa de Joe.
Ele não ficava bem de blusa.
− Quer jogar boliche, Mel? −
voltando ao trabalho.
(...)
− É assim que se pega a bola,
gatinha. − eu estava curvada, tentando ensinar pela quinta vez a criança como
ela devia pegar a bola.
Joe estava sentado em uma cadeira
estofada, observando a cena enquanto ria.
Eu tinha muita paciência para
crianças. Muita paciência, mesmo!
Mas foda−se.
Ele não era criança!
Grunhi, me levantando e virando
para ele.
− Cale a boca, homem! −
vociferei.
Foi ai que ele riu mais ainda.
Aquelas gargalhadas de pender a
cabeça para trás.
Merda! Por que ele não vai jogar?
− Demi. Aprendi! − uma voz
fofinha soou atrás de mim.
Virei−me.
Ela conseguiu!
− Olha ai! Minha mini ferinha
arrasando! − sorri, e ela riu, deixando a bola cair.
A gargalhada dela era como um
chiado que começava com um grito e terminava silencioso.
Linda!
Não resistir.
Agarrei−a pelas costelas e trouxe−a
para mim, soprando em seu pescoço, fazendo sua crise de riso aumentar. Agora
ela ria em meu ouvido.
Oh!
Ela enrolou suas perninhas em
minha cintura. Quando olhei−a no rosto ela ainda ria. Estava vermelha como o
cabelo!
Meu sorriso se alargou.
Virei minha cabeça para Joe e lá
estava o mesmo encanto.
− Acho que ela precisa de água.
Ele riu e veio até mim. Mas invés
de pegar Mel de meus braços, ele parou atrás de mim, olhando o rostinho risonho
dela e me abraçando por trás. Ah! Ele me puxou
para ele pelas costelas e cheirou meu pescoço, deixando um beijo por lá.
Jesus.
− Ela não é linda? − murmurou.
Aquela voz foi de reto para minha espinha, e um arrepio tremendo a cruzou.
Olhei para cima, para seu rosto,
e meus olhos pousaram em seu maxilar. Sua barba estava rala. Oh! Estiquei−me um pouquinho e dei um
beijo em seu queixo.
Ele sorriu com os olhos para mim.
− Muito.
Dei Mellisa para ele e fui ajudar
Ken, um menininho que quando me viu pulou em mim, beijando todo meu rosto.
− Demi!
Ri, segurando−o contra meu corpo
e olhando para os pinos no fim da pista que ele estava usando. Restou apenas um
pino.
− Olha! Meu namorado fez um
grande progresso! − ele sorria para mim, mexendo em meu cabelo.
Ken um dia sim e um dia não vinha
para o Funbal, junto com o irmão mais velho dele. Era jogado aqui como a
maioria.
Certo dia ele perguntou se eu
queria namorar com ele.
Lógico que eu aceitei!
Ele me conquistou assim que eu o
vi.
Marrento.
Carinhoso.
Sincero.
E a cima de tudo: carente. Muito
carente.
Seus olhos verdes escuros
seguraram os meus.
E seus cabelos loiros enlaçaram
meu coração.
Ele tinha 9 anos. Ele era meu
namorado. E eu a primeira namorada dele.
− Namorado, não! − fez birra. −
Marido! − suas pernas pousaram no chão, e ele me puxou para me ajoelhar. Eu ri
alto.
− Marido? Onde você viu essa
palavra, Ken? − sentei no chão, puxando para o meu colo. 1 pino restou. Ele aprendeu rápido.
Ele encostou sua cabeça em meu
ombro.
− Ouvi minha mãe que ia arrumar
um novo marido, para substituir meu pai.
Oh!
Fechei meus olhos fortemente e
puxei meu lábio superior para minha boca. Eu queria chorar, gritar, espernear.
− Você nunca vai arranjar um novo
marido, não é mesmo, Demi? − ele olhou para mim, seus olhinhos marejados.
Olhei para o lado, para ele não
notar as lágrimas em meus olhos. Mas outra pessoa notou.
Joe.
Ele estava perto, sentado com
Mel. Ele olhava para mim e Ken desde o inicio.
Ele ouviu a conversa.
Virei para Ken e falei:
− Não, meu marido. Eu não vou.
O menininho sorriu para mim e
segurou meu rosto entre as suas mãozinhas, beijando meu nariz e pulando do meu
colo, indo jogar.
Pendi minha cabeça para trás e
fechei meus olhos, tentando relaxar.
Uma sombra apareceu na minha
frente.
Reconheci o cheiro.
Sorri de olhos fechados.
Nick.
Abri os olhos.
− Hora de ir embora, mocinha.
Levantei meus braços, mas ele não
os capturou. Suas mãos vieram para minhas costelas e me puxaram para ele, me
fazendo chocar com seu corpo.
Ele sabia do que eu precisava.
Então me abraçou.
Como da primeira vez.
E eu me deixei perder em seu
corpo, como da primeira vez, cheirando seu peito.
Subi meus braços para seus
cabelos e os apertei. Nick desceu suas mãos para minha cintura e me apertou
mais ainda. Seus lábios sorridentes vieram parar na minha bochecha, varrendo a
mesma com sua maciez, beijando minhas lágrimas.
− Deixe vir. − ele sussurrou.
E eu deixei.
Deixei seu corpo me cobrir,
enquanto eu molhava sua blusa.
Depois de minutos na mesma
posição. Eu olhei para seu rosto sem restrição e sem medo. Deixei−o limpar minhas
lágrimas e me levar para sua casa.
Joe não estava mais lá.
E muito menos Mellisa.
Ele foi atrás de reconstruir sua
família, e eu não vou lhe atrapalhar.
(...)
2 semanas se passaram e eu estava
na mesma.
Conversava com Charles todo dia e
o fazia companhia no almoço.
Isso se repetia todo dia.
Até aquele.
Recebi uma notícia que me fez
cair no chão.
Charles morreu.
Pense em mim em sua sala.
Pense em mim sozinha.
Pense em mim sentindo seu cheiro
de madeira que empestava sua sala.
Pense em mim acabada, e acabando
seu piso de carvalho com murros e lágrimas.
− Não! − repetia em meio a
lágrimas. − Não! Não! Não! − Oh! − Volte para mim, seu velho barrigudo!
Eu não me importava se as pessoas
do salão poderiam ouvir meus berros e minhas lágrimas.
Minha garganta pedia arrego. Mas
eu queria fazê−la sangrar como meu coração.
Dolorida por dentro.
Eu sentia−me surrada a cada
batida do meu coração.
Ele surrada o espelho da minha
alma. E eu sentia que ia explodir já, já.
Meu coração estava em erupção!
Selena rompeu pela porta e se
ajoelhou perto de meu corpo convulsionando no chão do escritório de Charles. Eu
convulsionava a cada batida de meu coração.
Ela prendeu meus punhos que
martelavam o chão, como se eu mesma batesse em meu espelho. E me abraçou. Mesmo
eu gritando em seu ouvido parar de me abraçar. Ela me prendeu contra seu corpo
magro e eu convulsionei novamente.
Eu não podia perder mais alguém.
Não podia!
− Eu não posso perder mais
alguém, Selena! − gritei a todos pulmões. Ela chorava fogo.− Não posso! − meu
peito subia e descia pesadamente contra seu colo. − Ele cuidou de mim, Selena!
Quem vai cuidar agora? Quem? − eu me perguntava, ao mesmo tempo que perguntava
a ela.
− Eu. − respondeu entre lágrimas.
Ela agora olhava para mim. − Eu vou cuidar de você, maninha. − ela chorava
tanto quanto eu.
− Eu também. − Nick apareceu na
porta. Seu rosto estava lavado em lágrimas.
Fiquei sem falas.
Mas logo depois comecei
novamente.
− Eu quero ele, Nick. − funguei.
Selena ainda prendia meus braços aos lados da cabeça. Eu estava mais calma. −
Eu quero ele, Selly. − chamei−a pelo apelido, apelando a olha−la nos olhos.
Ela me soltou.
− Todos nós queremos, Demi. − e
saiu.
Olhei para Nick e ele sabia do
que eu precisava agora. Ficar só.
Com um aceno de cabeça ele foi
embora.
Com um suspiro, virei para o
lado.
Chorando agora em silêncio.
A imagem de Joe veio na minha
frente.
Levantei e olhei pela janela da
sala. Meu rosto ainda estava em brasas, como meu coração.
E lá estava Joe, com a filha
dele.
Ambos estavam inertes ao que
havia ao redor. Estavam jogando boliche na pista para adultos.
Enquanto Mel jogava, Joe
endireitou a coluna e olhou para a janela na qual eu estava.
Ele não sorria.
Olhou bem para meu rosto e
afirmou com a cabeça. E eu soube.
Sim.
Ele também cuidaria de mim.
(...)
No dia seguinte, o Funbal não
abriu.
Junto conosco, ele também estava
de luto.
Nick saiu de manhã, e de tarde
chegou em casa.
− Demi? − me chamou.
Desci as escadas rapidamente e
olhei−o.
Ele estava acabado. Todos nós
estávamos.
− Onde estava?
− Um advogado me ligou e me pediu
para encontra−lo. Era o advogado de Charles. Ele me pediu para entregar isso a
você. − do casaco, ele tirou uma carta branca, com o meu nome rabiscado com uma
caligrafia rabiscada e relaxada, que eu reconhecia bem.
Charles.
Peguei a carta entre meus dedos e
ela parecia que ia desmanchar. Subi para meu quarto e sentei na cama, pensando
em abrir.
Olá, Demi.
Se você está lendo isso, é por que não
estou mais entre vocês. Não estou mais ai para cuidar de você, minha pequena
fera.
Sei que você deve estar puta da vida
comigo, por eu ter partido de uma hora para a outra e sem aviso prévio. Sei que
lhe devo explicações, e a todos vocês. Então vou lhe contar, nessa carta que entreguei ao meu advogado
para ele lhe entregar quando eu morrer. E conto com você para repassar para os
outros, ok? Sei que vai ser doloroso, mas dou essa missão para você, por que
sei que você é forte suficiente para isso. E foi a partir da força que
encontrei em você, desde quando botei meus olhos em você, perguntando se ainda
tinha vaga no Funbal, que me deu força e vontade suficiente para viver o resto
dos meus dias. E você os fez valerem a pena.
Na verdade, não tinha e nunca teve
vaga de emprego. Era só uma ‘’pesquisa’’ que eu estava fazendo para ver quantos
jovens gostariam de trabalhar no local. 103. Esse foi o número. 103 jovens
perguntaram se ainda tinham vagas, e outros adultos. Mas eu só estava contando
os jovens. Você foi a 104. Desde aquele dia, 104 é meu número da sorte. Vi em
você o que eu não vi em todos os outros que passavam por ali. E não me pergunte
o que foi, por que até eu não sei.
Você não é só uma ótima trabalhadora, como também uma ótima pessoa. Você
é simplesmente apaixonante. E eu lhe agradeço por ser a ultima paixão de um
velho barrigudo como eu. Sim, eu lhe escutava resmungar e me chamar assim. E eu
amava. Pois isso significava que eu era SEU velho barrigudo. E você minha
pequena ferinha.
Você deu vida e fez aquele lugar
crescer. E se quer saber, eu lhe amei até meu ultimo suspiro. Você foi minha
criança; a criança que nunca tive. E me deixou lhe tratar assim. Deixou−me
cuidar de você. Confiou a esse velho barrigudo seu coração jovem e cheio de
cicatrizes.
A 6 meses, descobri que a qualquer
momento poderia ter um ataque cardíaco e morrer. Chocante? Nem tanto para
alguém gordo e solitário. Eu sabia que poderia morrer. Eu sabia que ia morrer!
Ou de solidão ou pelo meu próprio corpo cansado. E todo esse tempo, eu fiquei
na dúvida... Por quem eu morreria primeiro? De desgosto por ser um velho
sozinho, ou pelo meu corpo traidor?
E veio você e me tirou essa dúvida.
Eu não morreria de solidão. Por que você a tirou de mim. Quando eu soube da sua
história, soube que a vida valia a pena, e já que eu, apenas um gordo
solitário, não estava lutando pela vida. E você, uma jovem, linda, mas calejada
pela vida e que ainda tem muito para sofrer, estava! Eu vi que devia lhe
ajudar. E que ao mesmo tempo, isso seria a minha ajuda. Ajuda para mim mesmo.
Começar a viver e não ficar sentado esperando minha morte. E eu vivi. Todos os
momentos que eu passava com você, e que você falava ou resmungava de mim. Você
me fez viver novamente, me fez sentir−me vivo. Sentir que ainda servia para
alguma coisa!
Mas eu sabia que meus dias estavam
chegando. Vivia com meu coração apertado. E não era psicologicamente, era
fisicamente! Eu sentia isso! Tinha falta de ar constantemente e devia continuar
a viver com um aparelho pendurado em mim. Ou optava por uma cirurgia para
tentar desentupir as veias do meu coração. Eu sabia que folgadamente poderia
arcar com as duas coisas. Mas eu não queria! Por que do mesmo jeito que o
aparelho ficaria preso a mim, minha dor também ficaria. E mesmo se os médicos
conseguissem desentupir minhas veias/artérias, ou diabos que seja; eu
continuaria sentindo dor. Não fisicamente, mas agora psicologicamente. O que é muito pior. A cirurgia era de risco, muito grave,
principalmente para um homem como eu. Eu não iria fazer nem amarrado pelos
ovos!
Nessa hora, eu ri entre as
lágrimas que banhavam meu rosto.
Nessa hora, eu comecei a pensar em quem pensar. E a única pessoa que eu
pensei foi em você. Por que você é a única pessoa que eu tenho. Tirando Nick e
Selena, óbvio. Mas eles não eram para mim o que você era. Eles não precisavam
de mim como você precisa. E não precisaram de você como eu preciso. Para me
sentir vivo.
Portanto, pensei em o que fazer no resto de meus dias. E decidi que iria
escrever essa carta, e entregar tudo a você.
Deixo tudo para você, Demetria Lovato. Minha filha de consideração. Minha
filha da dor. E sim, Demi. Eu vi os reflexos da sua dor. Olhando para você, me
olhei no espelho da sua alma e vi que em algum lugar, eu estou ali. Somos
presos no mesmo lugar. E toda vez que você sentir minha falta, ou precisar de
mim, pode colocar sua mão ali, por que eu também vou colocar a minha. E mesmo
morto, eu irei me sentir vivo.
Demetria, quero que entre em contato com meu advogado, o telefone dele
está anexado nesta carta, e tome posse de tudo o que deixei para você. Tudo.
Absolutamente tudo! Entendeu? Casas, carros, Funbal... Enfim. Tudo que um dia
foi meu, agora será seu. Aceite! Faça disso não a minha ultima felicidade, mas
a minha primeira de muitas. Seja feliz, Demetria. Você merece. E essa será a
minha felicidade.
Não sentirei saudades, e não espero que você sinta minhas, entendeu bem?
Por que eu sempre estarei com você, e você sempre estará comigo.
Com amor: Seu velho barrigudo.
Oh céus!
Estou em lágrimas!
Quando elevo minha cabeça, Nick
está me olhando, escorado na porta. Não consigo falar nada, foda−se, Charles!
Eu não sei ao certo se era forte o suficiente para isso. Eu não conseguia nem
abrir a boca, imagine falar sobre a morte do velho.
Meu velho barrigudo.
Mas por ele, eu puxei Nick para
um abraço como sempre.
E lhe contei, como da primeira
vez.
As palavras saiam molhadas pelas
lágrimas, e abafadas pelo casaco de Nick. Mas isso foi o suficiente para ele
entender.
(...)
Não fui para o enterro de
Charles.
Nick e nem Selena muito menos.
Decidimos sair e ir para um
cinema.
E assim, eu sabia que meu velho estaria
feliz.
Acabou que Nick e Selena não
viram o filme. E eu fiquei de vela. No meio do filme, quando a mocinha ent...
Quem quer saber? Nem eles quiseram! Eles estavam lá, no maior beijão. E eu só
olhando o filme, atenta a tudo que acontecia e a morte da mocinha, para não
correr o risco de olhar para o lado e ver meus dois melhores amigos no maior
rolo. Eu e Charles sempre sabíamos que iria rolar alguma coisa entre os dois, e
estávamos certos, só não sabíamos quando.
E foi logo hoje!
É; esse foi o jeito deles de
homenagear o velho.
Eu toquei no meu coração, no
espelho da minha alma.
Esse foi meu jeito de homenagear
o meu velho barrigudo.
(...)
No dia seguinte, eu fui me
encontrar com o advogado de Charles.
Ele tinha na media uns 30 anos de
idade, e me repassou tudo o que Charles tinha deixado para mim, o que era
absolutamente tudo dele.
O velho não tinha família, e eu
era como uma filha para ele. Portanto, ele deixou toda sua herança para mim,
incluindo carros, casas, o Funbal, apartamentos que ele construiu e aluga. O
homem era rico! Logo, eu sou rica!
Eu me senti tonta e com vontade
de vomitar, sair correndo dali e não voltar nunca mais.
Mas eu fiquei. Por Charles.
E depois de 2 meses, consegui
restabelecer minha nova vida, vender a casa de Charles e comprar uma nova para
mim, reabrindo assim, o Funbal. E ele estava a todo vapor!
(...)
Minha nova casa é perto do
Funbal. Tinha 3 andares, sendo o terceiro dedicado a somente eu e Charles; um
espaço amplo e revestido de espelhos, com o piso de carvalho e só. Era isso que
eu queria. Venho descontando meus picos de emoções na dança, e é assim e lá que
eu venho levando a vida. Dançando para Charles, observando os reflexos da minha
dor.
Penso em Joe todo o dia, e me
culpo por isso. Ele agora tem uma família, e eu não devo me meter nisso.
Mellissa vai me ver todo fim de
semana lá, mas sem Joe. Ele fica distante, me deixando curtir a menininha até
ele decidir ir embora sem nem mesmo me cumprimentar.
Fiz um laço afetivo com Mellissa,
que nem eu mesma consigo explicar.
Mas eu quero saber mais dela. Ou
talvez isso seja só uma desculpa para eu saber mais de Joe.
Vou para meu quarto no segundo
andar e tomo banho, pensando agora em minha mãe. Eu quero muito ir visita−la,
mas ainda não é a hora. Eu sinto isso. E por mais que eu esteja rica agora, eu
sinto como se eu chegasse lá de mãos abanando.
(...)
Selena e Nick são os vici−donos
do Funbal, e eu sou muito grata a isso. Pois com os alugueis, as casas e os
carros, eu ainda estou tentando me organizar, e enquanto isso, eles cuidam do
boliche para mim.
Estou com saudades de Ken. Do meu
marido. Olho para o painel do carro e vejo que hoje é sexta−feira. Ele deve
estar lá. Acelero o carro e vou para o boliche. A procura do meu marido, eu não
o acho em lugar nenhum. Mas meus olhos caem sobre algo particularmente
interessante.
Joe.
Mellissa.
E uma mulher loira.
A mulher era linda! Alta, magra,
com os olhos verdes, e vestia um vestido, com salto preto. Muito para um dia de
boliche, eu sei, mas isso não justificava os meios; ela era de tirar o fôlego.
Isso me fez olhar para mim mesma.
Oh!
Eu era baixa, não era magra nem
gorda, eu tinha carne. Meus olhos são castanhos escuros, e eu visto uma blusa
branca lisa, de mangas longas e uma jaqueta de couro, junto com calças jeans
pretas e botas cano longo, de salto fino. E mesmo assim, ainda sou baixa! Isso
era praticamente uma calunia! Eu sentia como uma! Ela estava deslumbrante e
eu... Pera! Por que estou me comparando?
Quando balanço minha cabeça e
tento focar a realidade, algo baixinho e ruivo cutuca minha coxa.
Oh!
Mel.
Sorriu imediatamente e puxou−a
para mim, cheirando seu pescoço.
Ah! Como isso é bom!
− Mel! − uma voz fina soou,
chamando pela menina em meus braços. Ela bufou em meu pescoço.
− Oi, mãe. − ela falou
preguiçosamente, tirando sua cabeça de meu pescoço e deslizando para o chão.
− Que intimidade é essa com a
dona desse lugar? − a mulher perguntou. Eu quase me encolhi. A voz da mulher
era bizarra.
Joe surgiu atrás da mulher,
pousando suas mãos na cintura dela. Oh! Desviei o olhar daquela região e olhei
para o salão, onde vários jovens brincavam por lá. Encontrei Selena me olhando.
− Dona do Funbal? − Joe
estranhou.
− Sim, querido. Meu esposo é o
advogado do falecido Charles, o antigo dono. Ele deixou tudo para Demetria. −
céus, advogado não devia ficar de boca fechada?
Agora eu me encolhi, pendendo meu
corpo no salto das botas. Joe olhava−me atentamente. Eu já estava corada.
Sorria apenas para socializar.
− Ãnh... − o que eu iria falar? O
clima estava tenso! − Tenho que dá umas checadas por...− girei o dedo pelo
lugar. − ai. Foi um prazer conhecer...
− Blanda. − ela sorriu. Seu
sorriso estava começando a me dar nojo. Seu sorriso era de nojo!
Quando olhei para Joe, a única
coisa que eu podia pensar era em como ele poderia sair com uma mulher como
essa. Quer dizer, ela estava noiva!
E foi ai que eu me lembrei: Eles eram uma
família.
Girei os calcanhares e foda−se!
Eu não estava mais com vontade de ‘’olhar o local’’. Eu queria ir embora! E foi
isso que eu fiz.
Quando cheguei em casa, dancei
para meu velho. Dancei para mim. Dancei para os reflexos da minha dor.
(...)
− O que está fazendo aqui? −
perguntei, surpresa, depois de abrir a porta de casa e dar de cara com Joe.
Agora era eu que estava quase
sem blusa.
Qual é?! Eu estava dançando!
Suando! Estou usando um top azul escuro e um short curto, preto, de legging.
E como diabos ele soube meu
endereço?
− Selena me deu o endereço. −
Ah! Seus olhos passeavam pelo meu corpo, e eu sentia cocegas. Mas era bom. −
Posso entrar? − ele finalmente olhou em meus olhos. Ele estava corado. Lembrei−me
do meu sangue lá, mas não estava mais.
− Claro. − dei espaço para ele
entrar. − Quer beber algo?
Ele ficou parado no meio da
sala.
− Não, brigado. − o que ele
queria, Jesus?
Fiquei em sua frente e cruzei os
braços.
− O que quer, Joseph?
Não me entenda mal, eu não estava
sendo mal educada ou bruta. Apenas fui direta. Eu sou assim.
− Você. − simplesmente isso.
É; ele também é bem direto.
(...)
− Jo... − ele não me deixou
falar, ele me interrompeu! Bem... Não foi bem uma interrupção. É que suas mãos
grandes e frias na minha cintura nua e quente, tiraram minha fala.
Ele me puxou com uma facilidade
para ele, que eu apoiei minhas mãos em seus peitos, me firmando.
− Vem. − ele me ergueu e me
colocou em cima do sofá, me fazendo assim, ficar de cara a cara com ele.
Joe sorriu lentamente e acariciou
minha bochecha. Acariciou minha cicatriz pequena, e depositou um beijo já.
Ah!
Eu tinha que me focar e ir até o
fim.
− Você tem uma família, Joe. −
pera. Isso era para ser uma justificativa ou uma desculpa?
Eu não sei como isso soa.
Acho que é os dois.
− Lógico que não tenho, Demetria!
− suas mãos ainda estavam em minha cintura. − Eu tinha, Demi. Tinha! Agora eu
tenho apenas uma filha.
− Mas e aquela mulher? −
embirrei, fazendo carinho nos cabelos de sua nuca.
Essa intimidade fluía entre nós.
Joe beliscou meu umbigo.
− Foda, Demi! Ela é a mãe da
minha filha! − ele bufava.
− Me conte mais sobre isso. −
mudei o peso do meu corpo para outra perna.
Mas ele não me deixou sustentada
por muito tempo. Colocou um braço por trás dos meus joelhos e outro em minhas
costas. Sentou−se no sofá e me colocou em seu colo, de lado.
Oh! Rápido.
− Sempre soube onde minha filha e
minha ex mulher esteve e moravam, mas nunca tive coragem de ir lá. Quando você
saiu da minha casa naquele dia, fiquei devastado. Decidir procurar Blanda e
começar a conviver com minha filha. Entrei com uma ação no tribunal, e consegui
a guarda de Mellissa. Já que sua mãe não fazia muita pena de ficar com a
menina, o processo não demorou muito, e ela veio para mim. Estou com ela desde então.
Blanda quis ver a menina e eu não intervir. Ela é mãe dela. isso era uma
merda de uma justificativa? Ele não precisa me dar uma! Mas eu sinto que
mereço. Esperei ele me procurar todo esse tempo, mesmo sem esperar.
Ele não procurou.
Eu sei que ele não precisava.
Assim como a merda dessa justificativa.
Eu sei.
Mas eu queria que ele me
procurasse.
Ou talvez, eu queria que Eddie me
procurasse!
Oh merda! Eu sempre quis! Isso só
era uma merda de uma desculpa.
Eu queria que Joe me procurasse.
É isso.
Enquanto ele falava, sua mão me
sustentava pelas costas e outra pousava em minha coxa.
− Você não precisa me dar uma
justificativa. − falei, saindo de seu colo e me sentando em outro sofá, olhando
meus pés.
Merda. Eu nem o conheço direito!
− A gente nem se conhece direito.
− finalmente o olhei, o mesmo estava cabisbaixo, me olhando como se eu
estivesse fugindo dele.
E verdadeiramente estava.
Mas não por que eu não o conheço,
e sim por que eu o quero conhecer.
− Eu te conheço. − isso me fez
erguer uma sobrancelha. Serio isso?
− Você é Demetria Lovato, tem 17
anos e já terminou os estudos. Não usa vestido e ama preto. Gosta de frapuccino
com waffle tradicional, e é um mistério. Agora, atual dona do Funbal,
visivelmente muito bem financeiramente, se dá muito bem com crianças. E
continua um mistério.
Oh.
Meu queixo caiu.
Ele é um tarado e anda me seguindo?
− Você é um tarado e anda me
seguindo?
Ele riu gostosamente.
− Claro que não. − ele corou. −
Eu apenas lhe observo muito.
Agora foi minha vez de corar.
O que?
− Hum. − o que eu falaria?
Obrigado? − Eu não continuo um assim mistério como você diz, sabendo tudo isso
de mim.
− Você sabe, Demi. − ele
argumentou: − Isso não é nada sobre você.
Ele tinha razão.
− Eu não sei nada sobre você. −
tentei mudar de assunto.
− Por que você não quer.
− Isso não é verdade.
− Isso que você diz também não é
verdade.
Certo.
− Seu nome é Joseph Jonas, tem 28
anos, tem uma filha linda e é separado de sua esposa. − ele me corrigiu:
− Ex−esposa. − frisou bem, com
direito até a dedinho levantado.
− Tá. Ex−esposa. − corrigi − É
médico geral, e não gosta de vestir blusa. − rimos − Acertei?
− Oh, sim. Você acertou. − depois
de um tempo ainda rindo, paramos e ficamos sem jeito, em silêncio, sem falar
nada.
Rimos de novo?
− Viu? A gente se conhece. − ele
tentou.
Ergui uma sobrancelha.
− Você sabe, Joe. − o imitei. −
isso não é nada sobre nós.
Gargalhamos.
− Sim, é. Sobre mim é. É só
isso.
Fiquei surpresa.
− Sério? − perguntei.
− Sim, sério. Minha vida nunca
teve tantas emoções. Só o que você já sabe.
− Você tem sorte. − confessei.
− Não, não. Você! Você tem
sorte.
Hum... Algo a pensar.
− Por mais que seja ruim, ou
difícil, Demi. Considere isso como uma sorte. − Hãn? − Ao menos você vai ter
algo para lembrar. Ou para contar.
− Isso é algo para pensar.
− Sim, é.
Silêncio novamente. E nesse
intermédio de tempo pude perceber que ele considera Mellissa com filha. Minha.
Eu queria que Eddie me
considerasse como filha mesmo depois de saber o maldito resultado daquele teste
de DNA.
Eu queria que ele ainda me
chamasse de minha.
Minha florzinha.
− Sobre o que você me contou
sobre antes de sair da minha casa. Pode me contar mais sobre? − Joe perguntou,
e eu soube que esse era o real motivo de sua visita.
Ele não me queria.
Alias, quem me quer?
Ele só queria a verdade. A minha
verdade!
E eu queria o dar. Assim como a
mim mesma.
E eu sabia que quando eu contasse
ali seria o fim. Ele já teria o que ele queria e nunca mais me procuraria.
E mesmo sabendo disso; mesmo
querendo que ele voltasse! Eu decidi contar.
Eu queria que alguém tivesse
contado a meu pai antes.
E por isso eu o contei.
Ali. Com mais ou menos 4 metros
separando o sofá que eu estava sentada de frente a ele. Eu contei.
(...)
− Desde quando me entendo por
gente, meu pai se chamava Eddie Kennedy. Ele era meu pai. A gente era carne e
unha; ele foi minha primeira paixão. Quem não se apaixonaria por Eddie Kennedy?
Eu sei quem. Minha mãe. Ela vivia o traindo. Ela só queria curtir a vida com um
homem atrás de outro. Era meu pai que cuidava de mim quando minha mãe não
estava em casa ou chegava à mesma bêbada depois de muita farra. Então meu pai
começou a desconfiar que eu podia ser um fruto de uma traição. E com 10 anos,
nós, os dois mosqueteiros, fomos fazer um exame de DNA. Eu podia ser nova, mas
não era burra. Sabia o que significava, e sabia qual era a verdade. Ele também
sabia. E quando veio o resultado, os objetos caindo no chão por meu pai estar
irado de ódio depois que meu pai abriu aquele papel, foi a confirmação. Eu era
fruto de uma traição. Meu pai já não era meu pai. E eu já não era a filha dele.
Ele saiu de casa e nunca mais voltou. Deixou−me sozinha, chorando, e com uma
louca dentro de casa que além de quebrar as coisas dentro de casa, e fora dela,
quebrava o que tinha dentro e fora de mim também. Meu coração, e meu corpo. −
traguei o ar. − Agora era só eu e ela. Uma menina de 10 anos sem pai e tentando
se defender sozinha da mãe, e eventualmente dos homens que ela trazia para
dentro de casa. − não, eu não chorava. Mas meus olhos estavam vermelhos e minha
garganta ardia a cada palavra que eu dizia.
Olhei para Joe e ele olhava para
o couro do sofá. Penalizado por ter me feito falar sobre tudo isso. Mas eu não
estava com raiva dele. Eu só queria acabar logo com tudo isso. Era isso que ele
queria. É isso que ele vai ter.
Eu estou lhe batendo com minhas
palavras.
− O que mais quer saber? − curta
e grossa.
− Como foi parar na casa do
Patrick? − ele foi curto, nas sua voz mal saiu.
− Ele era mais um dos machos da
minha mãe. − revirei os olhos. − A cada homem que ela arranjava, era uma nova
casa para morar. Éramos−nos quebradas. Não só fisicamente como financeiramente.
− O que aconteceu lá dentro? −
ele perguntou quando eu terminei.
− Eu estava me arrumando para
sair. O quarto em que ficava tinha uma parede revestida com um espelho enorme.
Minha mãe ameaçou me bater novamente, e daquela vez não deixei. Começamos a
gritar e Patrick veio para cima de mim. Ele ia me bater assim como fazia quase
toda noite com minha mãe. Minha mãe percebeu isso, e em um ato de medo, quebrou
o vidro.− o olhei. Ele me olhava, sério.
Ele conseguiu.
− Depois disso, você já sabe o
que aconteceu. − marquei meu maxilar e me levantei do sofá. O deixei dar uma
ultima olhada em mim e falei: − Se isso é tudo que queria, você sabe onde fica
a saída.
E sai.
Subi as escadas e escutei a
porta da frente se fechar.
Me analisei no enorme espelho do
terceiro andar.
Olhei para os reflexos da minha
dor e comecei a dançar, lavada em lágrimas e chorando enquanto danço.
Danço para Charles.
Danço para Eddie.
Danço para Dianna.
E agora não mais para Joe.
(...)
No rádio que tenho nos fundos do
salão, começa a tocar Mirror, do Justin Timberlake. E a essa hora, meus pés
estão faiscando contra o piso de madeira. E eu sinto que alguém está me
observando, e decifrando essa música para mim.
Charles?
Dianna?
Eddie?
Porque o seu brilho é algo como um espelho
E eu não posso deixar de reparar
Você reflete neste meu coração
Se você um dia se sentir sozinha e
A luz intensa tornar difícil me encontrar
Saiba apenas que eu estou sempre
Do outro lado, paralelamente
O suor dança em meu corpo,
enquanto me movimento em movimentos bruscos, seguindo o ritmo da música.
Porque
com a sua mão na minha mão
E
um bolso cheio de alma
Posso
dizer, não há lugar aonde não podemos ir
Ponha
apenas a sua mão no vidro
Estarei
aqui tentando puxar você
Você
só tem de ser forte
Minhas lágrimas também dançam.
Meu coração também dança.
E eu caiu.
Desabo no chão deixando todas
minhas lágrimas sairem de meu corpo furado.
Com os joelhos no chão, levanto a
cabeça lentamente e olho meu reflexo no espelho.
Vejo o reflexo da minha dor.
Vejo Charles.
Vejo Dianna.
Vejo Eddie.
E vejo Joe...
Porque eu não quero perder você
agora
Estou olhando bem para a minha
outra metade
O vazio que se instalou em meu
coração
É um espaço que agora você guarda
Mostre−me como lutar pelo
momento de agora
E eu vou lhe dizer, baby, foi
fácil
Voltar para você uma vez que
entendi
Que você estava aqui o tempo
todo
É como se você fosse o meu
espelho
Meu espelho olhando de volta
para mim
Eu não poderia ficar maior
Com mais ninguém ao meu lado
E agora está claro como esta
promessa
Que estamos fazendo
Dois reflexos em um
Porque é como se você fosse o
meu espelho
Meu espelho olhando de volta
para mim
Olhando de volta para mim
Solucei.
Me levantei.
Eu devia mudar essa música. Mas
não mudei.
Eu não podia mudar o que estava
acontecendo dentro de mim.
Fui até o espelho e parei na
frente da minha mãe. Ela olhava para mim. Encostei minha testa no espelho e
percebi que minhas lágrimas estavam quentes.
Você
é especial, uma original
Porque
não parece assim tão simples
E
eu não posso deixar olhar, porque
Vejo
a verdade em algum lugar nos seus olhos
Nunca
poderei mudar sem você
Você
me reflete, amo isso em você
E,
se eu pudesse, eu
Olharia
para nós o tempo todo
Olhei para o lado e lá estava meu
pai.
Oh!
Por que ele não veio atrás de
mim?
Eu não queria saber a resposta.
Eu já sabia.
Gritei.
Bati no espelho, repetidas vezes,
eu podia sentir o sangue em minha mãos.
Eu queria morrer! Queria que a
bosta daquele espelho estourasse assim como o da minha alma.
Mas ele não estourou.
Algo segurou minhas mãos
ensanguentadas e me trouxe para si.
Joe.
Porque com a sua mão na minha mão
E um bolso cheio de alma
Posso dizer, não há lugar aonde
não podemos ir
Ponha apenas a sua mão no vidro
Estarei aqui tentando puxar você
Você só tem de ser forte
Arfei e gritei novamente.
Ele me puxou para longe, com
minhas costas em seu tronco e minhas mãos nas suas, em meu colo.
Eu continuava chorando e
gritando, com seus lábios em meu ombro.
Eu podia sentir suas lágrimas
descendo no meu corpo.
Ele também chorava.
Porque
eu não quero perder você agora
Estou
olhando bem para a minha outra metade
O
vazio que se instalou em meu coração
É
um espaço que agora você guarda
Mostre−me
como lutar pelo momento de agora
E
eu vou lhe dizer, baby, foi fácil
Voltar
para você uma vez que entendi
Que
você estava aqui o tempo todo
É
como se você fosse o meu espelho
Meu
espelho olhando de volta para mim
Eu
não poderia ficar maior
Com
mais ninguém ao meu lado
E
agora está claro como esta promessa
Que
estamos fazendo
Dois
reflexos em um
Porque
é como se você fosse o meu espelho
Meu
espelho olhando de volta para mim
Olhando
de volta para mim
Joe caiu no meio do salão e me
levou junto.
Ele estava ajoelhado me segurando
enquanto eu oscilava em seus braços.
Ele me virou, e agora suas mãos
ensanguentadas com meu sangue estavam em minha nuca. Segurando meu rosto perto
do seu. Mantendo meus olhos nos seus.
Ontem é história
E amanhã é um mistério
Posso ver você olhando de volta para mim
Mantenha seus olhos em mim
Mantenha seus olhos em mim
Seus olhos estavam vermelhos e
seus lábios inchados, entreabertos.
Eles estavam se aproximando.
Parei de chorar.
Porque
eu não quero perder você agora
Estou
olhando bem para a minha outra metade
O
vazio que se instalou em meu coração
É
um espaço que agora você guarda
Mostre−me
como lutar pelo momento de agora
E
eu vou lhe dizer, baby, foi fácil
Voltar
para você uma vez que entendi
Que
você estava aqui o tempo todo
É
como se você fosse o meu espelho
Meu
espelho olhando de volta para mim
Eu
não poderia ficar maior
Com
mais ninguém ao meu lado
E
agora está claro como esta promessa
Que
estamos fazendo
Dois
reflexos em um
Porque
é como se você fosse o meu espelho
Meu
espelho olhando de volta para mim
Olhando
de volta para mim
− Não. Não era tudo o que eu
queria. − Joe sussurrou em meus lábios, ainda olhando em meus olhos.
E ao terminar de falar isso,
pressionou seus lábios nos meus. Tão suavemente que eu choraminguei, levando
minha mão suja de sangue para sua bochecha e aprofundando o beijo.
Você é, você é o amor da minha vida
Você é, você é o amor da minha vida
Você é, você é o amor da minha vida
Você é, você é o amor da minha vida
Você é, você é o amor da minha vida
Você é, você é o amor da minha vida
Você é, você é o amor da minha vida
Você é, você é o amor da minha vida
Você é, você é o amor da minha vida
Você é, você é o amor da minha vida
Com seus lábios nos meus, não
ouvi mais o resto da música.
Tudo o que eu ouvia agora, era o
som dos nossos corações.
− Você é, você é o amor da minha
vida. − ele sussurrou.
Enquanto Joe dava repetidos
beijos em meu ombro suado, deslizei minha mão cortada e deixei uma trilha de
sangue em seu tronco nu. Do seu ombro ao seu peito − sua camisa se perdeu assim
como nós enquanto nos beijávamos. Pude sentir as batidas de seu coração em
minha mão. Ele falava a verdade.
Desci minha outra mão pelo seu
braço, sentindo todos seus músculos contra minha palma, e espalmei minha mão na
sua. Estávamos interligados. Ele era meu espelho.
Joe sorriu para mim.
Eu sorri para ele.
− Agora você é meu espelho? −
perguntei.
− E agora você o meu reflexo.
(...)
− Agora vem, vamos limpar essa
mão.
Joseph não esperou minha resposta
e me pegou nos braços, me jogando por cima do ombro e me deixando espernear até
a sala.
(...)
− Você precisa de um banho. −
acusei, depois dele terminar de fazer um curativo em minha mão.
− Sua culpa. Quem mandou tirar
minha roupa e me agarrar? − riu, e recebeu um tapa no braço.
− Vá se foder, Jonas. − embirrei,
saindo de seu colo e subindo as escadas.
Ele me seguiu, agarrando−me pela
cintura e me puxando bruscamente para ele.
− Amo você, sabia? − mordeu meu
ombro. Eu ri.
− Eu também amo você, sabia? –
virei-me para ele, enlaçando seu pescoço com meus braços.
Ele se fez de pensativo.
− Hum... Prove.
Gargalhei. E sem pensar duas
vezes, eu o beijei.
(...)
Enquanto eu tomava banho, pensei
sobre em como minha vida estava andando, e pensei se estava fazendo a coisa
certa dessa vez.
Comprovei que não sabia a
resposta para essa pergunta e decidi que iria perguntar a única pessoa que
nunca me abandonou, por mais errada que fosse, e que me amava, por mais errada
que fosse. E que vivia a vida, por mais errada que fosse.
Minha mãe.
(...)
Depois de colocar uma roupa
limpa, desci as escadas e não encontrei Joe. Fui procurar na cozinha e a única
coisa que encontrei foi um bilhete na porta da geladeira.
‘’ Tive que
sair. Mellissa estava com a mãe, e eu vou busca−la na casa dela. Não se
preocupe, Demi. Por mais que você pense, você não está estragando uma família.
Você está formando uma. Te vejo no Funbal amanha? Mellissa está com saudades, e
eu também.
Eu te amo.
Joe.’’
(...)
− Vou visitar minha mãe hoje,
Nick. − choraminguei, precisando de apoio. Sabia que iria encontrar isso em
Nick. E ele sabia do que eu precisava.
− Ora, Demi. Venha cá. − ele
sorriu, e eu me enterrei em seu corpo, entre seus braços, cheirando seu peito e
acariciando seu cabelos. Como eu sempre faço. E ele me apertando, varrendo
minha bochecha e minha orelha com seus lábios. Como ele sempre faz.
Dando−me apoio. Como ele sempre
faz.
Estamos no Funbal, na área das
crianças. É por volta das duas da tarde e hoje é sexta−feira. Ou seja, o lugar
está lotado! Sexta e sábado abrimos cedo. E é assim que funciona.
− Com licença. − Selena apareceu,
sorrindo. Por mais que ela seja a namorada de Nick, ela sabe que somos como
irmãos, e que nada acontecerá entre a gente. Sei que existe uma pitada de
ciúmes ali, mas nada contra. Ela não pode fazer nada para mudar isso, e nem eu
e Nick. − Tem um homem te procurando, Demi. − falou, depois de me beijar a
bochecha.
Oh! Joe.
Mas foi só eu olhar para o lado
que eu lhe vi, sério, e ele apenas assentiu para mim. Girou os calcanhares e
saiu.
Olhei para Nick e Selena e bufei,
correndo até a saída em meus saltos.
− Joe! − ele já virava a esquina.
Olhei para meus pés e sabia que
não aguentaria. Eu sentia que estava perdendo meu chão, que acabou de ser
construído.
Subi a cabeça novamente e
enxerguei um espelho na minha frente, e lá estava Joe, com uma mão no espelho.
Coloquei a minha lá.
O espelho sumiu.
(...)
Depois de entrar no meu carro,
acelerei até a casa de Joe.
Toquei a campainha e uma
garotinha abriu a porta.
Mellissa.
Agora tudo que eu vi foi cabelo
ruivo voando no meu rosto enquanto eu a pegava no braço e ela se jogava contra
mim.
− Demi!
Consegui tirar seu cabelo do meu
rosto e encontrei um Joe sem camisa com um pano de prato na mão no outro lado
da sala.
Ele entrou na cozinha e eu sabia
que ele não estava para papo.
Melhor assim.
Coloquei Mel no chão e ela foi
para o sofá.
− Vou ter uma conversa com seu
pai, ok, gatinha? − ela assentiu e voltou a assistir algum desenho que passava
na TV.
Fechei a porta da casa e olhei
para a mesma.
Ah!
Cenas se passaram em minha mente
e eu fechei os olhos, balançando a cabeça. Não. Não agora.
Fui para a cozinha e outra maré
de lembranças me atingiu. Foquei meus olhos no homem lavando louça e tudo
desapareceu.
Agora era só eu e ele.
O alcancei e enrolei meus braços
em sua cintura, espalmando minhas mãos em seu abdómen e o puxando para mim.
Meus lábios foram para suas costas nuas e meus dedos sentiram gomos se formando
em minha palma a cada beijo que dava.
Ele largou tudo e limpou as mãos
no pano, jogou o mesmo na pia e se virou, me olhando agora beijando seu
peitoral.
− Quem é ele? − sua voz saiu
grossa, porem aveludada.
Olhei para seu rosto sério e
falei:
− Um amigo. − ele arqueou uma
sobrancelha. Ok. − Quase um irmão. − ele continuou na mesma.
Revirei os olhos.
Qual é agora?! Ele não é meu
namorado! Até a Selena, que é namorada do Nick, entende!
Peguei meu celular do bolso e
tinha uma mensagem do Nick:
‘’Boa sorte,
baixinha. ’’
Sério. Foi impossível não sorrir.
Foi automático!
Ouvi Joe bufar.
Olhei as horas e eram uma da
tarde. Voltei a colocar o celular no bolso.
As visitas na prisão são de uma
as duas horas. Eu demoraria no mínimo meia hora para chegar lá. E ficar apenas
meia hora não ia adiantar.
Suspirei.
Merda.
Vou ter que deixar para outro
dia.
Voltei a olhar para Joe e falei:
− O que foi, Joe? − troquei o
peso do meu corpo para outra perna.
Já falei que salto alto tem tempo
usável?
− É que... − ele não terminou.
Mel apareceu na cozinha.
− Estou com fome, papai. − olhei
para ela e a mesma estava coçando o olho.
Joe foi na geladeira e tirou de
lá um iorgut.
− O almoço já está saindo. − ele
sorriu e a beijou na testa.
Ela se foi.
E foi ai que eu vi que ele já
tinha uma pessoa para cuidar. Ele não precisa de outra.
Enquanto Joe ainda estava de
costas, olhando−a ir embora, eu também fui. Pelas portas dos fundos. Dei de
cara com o quintal.
Oh!
Olhei para a esquerda e vi a casa
de Patrick.
Ela estava toda escura. Sem
ninguém.
Olhei para a janela do meu antigo
quarto e vi uma menina, se arrumando para sair, com a blusa da ramones e sua
calça de couro. Sua jaqueta também de couro estava repousando na cama, e ela se
olhava no espelho, passando lápis de olho. Sua mãe rompeu pela porta e abriu a
boca, parecia brigando com ela. Tudo estava mudo, eu estava longe, e dava podia
ouvir. A mãe levantou a mão para a menina, e a filha pegou no pulso da mesma,
segurando−a no ar e impedindo−a de bater na sua cara. Elas pareciam estar
gritando. Um homem chegou, só de cueca, e foi para cima da menina. A menor
chorava, e a mãe também. Até que vidros voaram para todo lado. O homem caiu. A
menina correu. E eu sai dali, correndo, não querendo lembrar e nem pensar em
mais nada.
− Demetria! − pude ouvir Joe
gritando.
Mas eu não parei.
Nem olhei para trás.
Joe tem uma filha para criar.
E eu preciso de alguém para
cuidar de mim.
(...)
A campainha tocou e era Nick e
Selena.
Deixei a porta aberta e voltei
para o sofá.
− Que desânimo é esse, gatinha? −
Selena.
− Você não foi ver a sua mãe? −
Nick.
− Não. − eu.
Selena se sentou em minhas coxas.
Eu estava deitada no sofá.
− Foi aquele cara, não foi? −
Selena me conhece muito bem.
− Foi.
− Você gosta dele? − Nick
perguntou, sentado no outro sofá.
− Eu o amo, Nick.
(...)
A campainha tocou e Selena foi
atender. Eu continuei deitada no sofá, e Nick, no outro.
− Ela está na sala. − Selena foi
logo falando.
Era assim?
A pessoa chegou até o sofá em que
eu estava deitada e ficou do meu lado, fazendo sombra em meu rosto.
Joe.
− Joe. − constatei, me sentando. −
Se você está aqui para me pedir satisfação novamente, nem comece! Eu já falei
que Nick é apenas um ami... − ele me interrompeu, com sua boca na minha.
Eu ainda estática, levei minhas
mãos para sua bochecha e o afastei.
− O que f... − Oh céus! Sua boca
voltou para a minha.
− Eu acredito em você. Desculpe. −
ele finalmente sorriu. − É que minha filha estava gripada, e eu estava
estressado.
Um brutamonte parou no lado de
Joe.
Oh merda! Nick.
− Alto lar! − revirei os olhos.
Joe, o olhou de cima a baixo.
Brutamontes.
− Você chega assim, e vai logo
beijando? − Nick é tão velho as vezes...
Joe se constrangeu. Ele é mais
velho que Nick, e agora parecia uma criança na frente do mais novo.
Eu pagaria para ver isso! Mas já
que é de graça...
− Nick, estou certo? − Joe o
estendeu a mão, e eu pude ver que quando Nick alcançou, era como uma queda de
braços.
− O carinha que a atrapalhou de
ver a mãe, estou certo?
Oh!
Joe olhou para mim chocado, com a
expressão penalizada.
− Você iria visitar ela hoje? −
perguntou.
Olhei dura para Nick, e ele
sorriu. Selena e pegou pelo braço e o levou embora.
Agora estava só eu e Joe.
(...)
− Ia.
Ele me alcançou.
− Desculpa. Eu e meu ciúmes
imbecil estragamos tudo. − hum... Ciúmes, hãn?
− Ciúmes? − alfinetei.
− Problemas? − Joe arregalou os olhos.
Ergui os braços para ele me
abraçar e assim foi feito.
− Talvez. − respondi, e nós
rimos, oscilando um nos braços do outro enquanto riamos.
(...)
− Mãe?
Eu estava em uma salinha, no
presídio, e uma mulher com os cabelos loiros, e vestida com um macacão se virou
para mim.
Era ela.
− Filha. − e nada mais foi dito.
Abraçamo−nos e choramos,
soluçando nossa dor.
Ela se afastou de mim, segurando
minhas mãos, e me analisou de cima a baixo. Sorriu.
Eu estava com minha inseparáveis
botas de cano longo de couro, com saltos. Isso me fazia ficar um pouco maior
que ela. Minhas calças jeans eram justas, e minha blusa era azul clara, com um
casaco por cima.
− Graças a Deus. − foi isso que
saiu por entre seus lábios secos. E seus olhos úmidos sorriram para mim.
Contei sobre tudo que aconteceu
comigo desde minha ‘’fuga’’, até Joe. Quando falei dele, ela sorriu.
− É ele. O que?
− Como assim, mãe?
− Você nunca foi de deixar homem
nenhum se aproximar de você, Demetria. − ela riu. −Você não vê? É ele, Demi.
Foi ele quem a vida escolheu para você, querida. Ele é o homem certo para você.
Ela respondeu minha pergunta.
− E que o falecido Charles me
perdoe, mas filha. Você é dele. E ele é seu. Não perca isso, por favor, filha. −
e ela voltou a chorar.
Eu sorri entre lágrimas e a
abracei.
Uma mulher apareceu dizendo que
falava apenas 5 minutos.
− Eu vou te tirar daqui, mãe. −
sussurrei em seu ouvido, ainda no abraço.
Eu podia pagar sua fiança como
comprar pão.
Ela ficou tensa em meus braços.
− Não, filha. Não. − hãn? − Deixe−me,
por favor. Deixe−me pagar por tudo que lhe fiz. − céus. Ela se sentia tão
culpada.
− Mãe, não foi você que fez isso
comigo. Foi a
vida.
(...)
Um ano depois...
− Não acredito! − gritei, quando
Nick e Selena apareceram em minha porta.
O casal não demorou em responder
em uníssono:
− Vamos nos casar! − a alegria
deles era contagiante, e por mais que esse dia não esteja sendo muito bom para
mim, eu sorri verdadeiramente.
Nesse ultimo mês, a mãe de
Mellissa separou do noivo, esposo, macho, ou sei lá o que dela. E está
dedicando a maior parte de seus dias para sua filha, que antes ela nem queria
ver pintada de ouro. Sei; eu não devia estar enciumada ou algo do tipo, mas qual
é?! Eu me apeguei à menina! E ela se apegou a mim.
Para quem ela vinha quando
chorava? Demetria.
Para quem ela gritava quando
estava doente? Demetria.
Para quem ela pedia conselhos
quando ficava com dúvida em algo que seria embaraçoso perguntar para o pai?
Demetria.
Para quem ela pedia colo quando
estava triste? Demetria.
Era eu e ela. Sem falar de Joe,
que era um pai super coruja.
Era eu, ela e Joe.
Mas nesses últimos meses, está
sendo Blanda, Mellissa e Joseph.
E eu não me sinto no direito de
achar ruim. Por que eu só estava ocupando temporariamente o lugar de Blanda.
Mas agora ela veio apoderar−se do lugar de direito. O lugar de sangue.
Mas o que mais me magoa, não é
nem isso. É por que eu sei, que assim como ela veio; rápida e furtiva. Ela
também vai.
E a minha pequena gatinha vai
voltar, magoada e quebrada, assim como eu a encontrei.
Quando eu me lembro de Joe,
tenho vontade de gritar!
É só essa mulher chegar, que ele
vai correndo atrás como um cachorrinho! E sem falar que ela tem um corpo de
modelo, sua beleza é magra e elegante. Ficou fora por quase 1 ano, e agora,
quando volta, derruba não só quem deixou, mas quem ficou.
Ou seja:
Mel.
Joe.
E agora, eu.
− Mas mudando de foco. − Nick
começou. Estávamos sentados no sofá, e faz um longo tempo que começou uma
conversa sobre o futuro casamento deles. Mas eu não estava prestando muita
atenção.
− Fiquei sabendo que a Blanda
voltou. − Oh sim! Nick e Joe construíram uma grande amizade.
Percebi que Nick estava tentando
ser o máximo sutil. E isso me irritou.
− Eu não quero falar nisso, Nick.
− e o assunto acabou. Eles foram embora, depois de uma bebida.
E o dia se foi.
Joe não veio, e muito menos Mel.
O que foi bem estranho, já que todos os dias eles passam por aqui de noite, e
muitas vezes, até dormem aqui. Mas desde que Blanda voltou, isso mudou.
Quando Joe me beija, é rápido e
prático. Não como antes. Não como fez com Blanda, quando eu fui até sua casa
nesse mesmo dia, de noite, e o vi a beijando.
(...)
Típico. Épico. Chame do que
quiser! Mas para mim continua sendo a mesma coisa: Traição. E isso eu não
perdoo.
Convivi com isso, e sei que não
quero viver com isso.
− Hum. − comecei, ainda na
porta. Não ia passar disso.
Joe estava sentado no sofá,
imóvel, olhando para mim petrificado e seus lábios avermelhados piscavam para
mim. Blanda estava com um vestido preto, no colo de Joe, de frente para ele. A
barra de seu vestido mal cobria sua calcinha rendada. Ela estava muito ocupada
deixando um rastro batom pelo rosto de Joseph, e não me olhou. Ou apenas não
quis.
Era isso que ela queria.
Isso me fez pensar: Batom; eu
nunca uso. Odeio! Joe concorda comigo, e diz que prefere o gosto natural dos
meus lábios.
Então por que diabos?! Argh! Eu
não queria pensar. Eu não queria continuar ali. Eu não queria nem continuar a
falar!
Mas quando vi uma menininha,
ruivinha, de moletom, descendo as escadas; olhei atónica para a cena deplorável
que presenciei, e me lembrei.
‘’Era natal.
Época de paz e felicidade! Mas não lá em casa.
Eu tinha 9 anos.
A única coisa que tinha certeza era que minha mãe tinha que ficar com meu pai,
Eddie, o homem que a beija e cria sua filha junto com ela. Ao menos nessa época.
Ao menos nesse dia!
Mas não foi isso
que aconteceu.
Eu ia beber água
na cozinha, enquanto esperava meu pai voltar da rua, trazendo o peru para a
ceia de Natal.
Algo rompeu pela
porta, e não foi meu pai trazendo um peru.
Foi minha mãe, trazendo
um homem para dentro de casa. Ou vice−versa. Aos altos beijos.
Deixei meu copo
de vidro cair, tamanho desespero e vazio que senti.
Esse não era meu
pai.
Isso não estava
certo.
A vida não
estava mais certa.
A vida perdeu o
sentido para mim!
Eu não tinha
mais certeza de nada.
Nem que papai
Noel ainda existia. Parei de acreditar no natal, e em tudo, até na minha mãe, a
partir daquele dia.
Eu nem sabia o
que era aquilo!
Quando todos na
sala ouviram o impacto do vidro se espatifando no chão; o cara parou de se
atracar com Dianna, e a mesma apenas riu. Bêbada. Ele me olhou chocado, e outro
barulho ouve. Meu pai, perguntando:
− Que porra é
essa? Você está me traindo?
Corri para o
quarto e tranquei a porta, fechando meus ouvidos e meu coração.
A partir daí,
intitulei isso como ‘’Traição’’. ‘’
Foda−se, que Blanda seja a mãe de
Mellissa e seu pai Joe!
Ainda seria um choque para ela.
Assim como foi para mim.
Joe me beijava. A mim! E era isso
que ela estava acostumada. Era isso que era o certo para ela. Ao menos até
agora!
Seus olhos claros foram parar na
situação do sofá, e seus olhos ficaram parados, perderam o brilho, e se
arregalaram. Depois de um segundo, eles ficaram úmidos, e ela choramingou aos
seus olhos pararem em mim:
− Demi. − não tinha a mesma
animação. Algo morreu dentro dela assim como morreu em mim. Mas ela ao menos
tinha para quem correr.
A peguei em meus braços, e
rapidamente ela se enrolou em mim, enterrando sua cabeça e suas lágrimas em meu
pescoço. Ela oscilava em meus braços, soluçando. Sua mãe olhou para mim, com o
barulho.
− Que diabos é esse barulho
infernal?
Meus olhos foram parar em Joe, eu estava
séria, enquanto uma de minhas mãos estava na cabeça de Mel, impedindo−a de
olhar para o que eu olhava, deixando−a em meu corpo. Protegendo−a como eu
queria que tivessem feito comigo.
Joe ainda não se mexia, e muito
menos falava.
Pensei em pensar em uma frase de
efeito, para falar e sair de lá sambando em cima do salto!
Mas aqui, agora, é como aquelas
brigas, que a gente só pensa em uma resposta boa depois que a briga acaba.
Estamos falando de vida real!
Sai de lá com a menina ainda
chorando em meus braços. E por mais que meu carro esteja na esquina, decidi ir
andando, sentindo o vento frio e cortante da noite. E por mais que eu esteja
preocupada com Mel, que não está mais chorando, e sim calma, tentando processar
tudo, eu sei que é disso que ela precisa. E isso só fará bem para ela, por que
as vezes, a gente só quer sentir algo forte, intenso e doloroso, que não esteja
ocorrendo dentro da gente.
(...)
Depois que coloquei Mel em minha
cama, me deitei ao seu lado e trouxe−a para mim, esquentando−a com meu corpo.
− O que era aquilo, Demi? −
perguntou.
Oh, Jesus!
− Quer dizer... − continuou: − Aquilo estava certo?
− ela estava tão confusa quanto eu. Aquilo estava certo?
− Ela é sua mãe, Mel. − falei.
Como se aquilo fosse uma justificativa tanto para mim quanto para ela.
− Mas ele é seu, Demi. Seu. − ela se
referia a Joe.
Sim; ele era.
(...)
Na manha seguinte, acordei com a
barulho da porta de meu quarto. Mas eu não abri os olhos.
Um homem apareceu.
Joe.
Mel estava agarrada a mim enquanto
dormia, e eu a abraçava pelas coxas. Minha cabeça descansava em sua barriga, e
suas pernas se enrolavam em minha cintura.
Eu estava tão cansada.
Dormi.
E só acordei novamente com Mel
beijando meu rosto. Seus cabelos me davam cocegas.
Gargalhei.
− Minha gatinha acordou? −
perguntei.
− Acordei sim, gatinha. − foi a
vez dela de rir.
Ainda estávamos na cama, deitadas
e de olhos fechados.
Abri os olhos e Joe os capturou.
Ele estava sentado na poltrona,
eu não podia decifrar seu rosto.
Não mais.
Ele já não era o meu Joe.
− Hey. − fiz Mel abrir os olhos. −
Seu pai está aqui. Vá falar com ele, gatinha.
Meio hesitante, ela foi. O levou
para a sala, e eu voltei a cair na cama.
(...)
Só percebi que dormia, quando
senti uns dedos trilhando meu rosto.
Mania de Joe.
Abri os olhos e constatei que era
ele.
Ele estava na minha cama, virado
para mim e me olhando dormir. Me tocando.
Dei um pulo da cama ao perceber
isso.
− O que quer? − perguntei.
Joseph me olhou penalizado.
− Você.
Eu conheço essa conversa.
(...)
− Pois não parecia isso ontem. −
repliquei.
− Demi, foi ela que veio para
cima de mim! Entenda: eu não queria aquele corpo, eu queria você! O seu corpo!
A minha Demi! Eu estava sentado no sofá, sem blusa, por que Blanda já tinha
saído e eu estava em casa. Cochilei no sofá, e quando acordei, foi com ela em
meu colo, me beijando. Foi ai que você entrou.
− E você, super inocente, deixou
ela permanecer em seu colo. − ironizei.
− Você queria que eu fizesse o
que?
− Ia lhe indicar inúmeras coisas
para fazer naquele momento para a afastar. Não a levar para sua casa, talvez. −
não deixei ele falar. Eu já sabia. − Mas ela é a mãe da sua filha, eu sei! − o
cortei. − Mas o que era aquilo? Não tinha um quarto? − perguntei: − Você sabe o
que sua filha vai pensar, ou melhor, o que ela pensou? − eu já gritava.
− E você por acaso sabe? −
gritou: − Como você pode saber?
Explodi.
− Por que eu já passei por isso!
(...)
Ele se calou.
− Sabe o que sua filha me
perguntou, ao chegar aqui? − ele fez que não. − Ela me perguntou o que era
aquilo, e se era certo. − suavizei mais a voz: − Eu falei que Blanda era sua
mãe. E sabe o que sua filha falou? − trouxe seus olhos pesados para mim. − Que
Blanda podia ser sua mãe. Mas você era meu.
Ele caiu sentado em minha cama,
desolado.
Oh! Odeio o ver assim.
− Desculpe, Joe. − sim. −
Desculpe por ter destruído sua família.
Ele se levantou, irado de raiva.
− Não foi você que destruiu minha família,
Demetria! Foi
ela! − e sua voz abaixou, para
continuar: − Fui
eu.
Foda. Isso me desarmou.
− Você só fez construir uma
família, Demi. Você não errou. Fui eu. Eu sempre erro. Eu sempre destruo o que
tenho nas mãos. Primeiro foi Blanda, e agora, você. − ele queria me tocar, eu
sentia; mas ele não fazia. − Você não, Demi. Por favor, você não. − ele pediu,
olhando em meus olhos.
Mas eu não viveria com isso.
Ele pegou bem no calo.
Traição.
− Você não entende, Joe.
− Então me faça entender! − ele
pedia com tanta fervura, que assim eu fiz.
Eu o fiz entender.
Eu lhe contei tudo.
− Oh meu Deus! Desculpe, Demi. Eu
sou um monstro, eu sou um monstro, eu sou um monstro... − ele repetia, até eu
segurar em seu ombro.
− Não, você não é. Você não podia
saber. − tentei o reconfortar.
− Eu quis construir uma família
de novo, Demi. Mas eu não sabia que já tinha uma construída. − me olhou: − Com
você.
E esse foi o fim.
Eu não me sentia boa o suficiente
para firmar uma família, e ele acabou de confirmar isso. Pois se ele estivesse
certo de que eu era boa, e firme, ele não procuraria outra.
Ele confirmou.
Essa foi minha confirmação.
Essa foi a nossa finalização.
(...)
Dois meses depois, e eu nunca
mais vi sinal de Mellissa ou Joe.
Nick e Selena viajaram para
espalhar a boa nova para suas famílias.
Família.
Algo que eu tinha, ou achava ter,
e que foi tomado por Blanda. Ou aquela família nunca foi minha.
A que eu tinha, estava no
presídio. Minha mãe.
Ao seu pedido, parei de visita−la.
Não paguei sua fiança. Não fiz nada! E tudo, ao seu pedido. A única coisa que
eu não fiz foi esquece−la.
Nem ela, nem Eddie. Nem Joe...
Era final de ano. Ano novo.
Decidi pegar meu carro e dar uma
volta, tentando despistar a onda de nostalgia que tentava me atingir, junto com
as lembranças.
Quando me vi, estava numa estrada
vazia. Já estava de noite, mas que se foda! Eu não tinha para onde ir, não
tinha para quem voltar. Então eu acelerei, ligando o rádio, em uma maneira de
colocar uma trilha sonora em minha vida, para animar.
Começou a tocar Mirror, do Justin
Timberlake.
Oh, não.
As lembranças vieram junto com
minhas lágrimas, como uma enxurrada.
Mas
não é que você é algo para admirar?
Porque
o seu brilho é algo como um espelho
E
eu não posso deixar de reparar
Você
reflete neste meu coração
Se
você um dia se sentir sozinha e
A
luz intensa torna difícil me encontrar
Saiba
apenas que eu estou sempre
Do
outro lado, paralelamente
Tirei uma mão do volante e
esfreguei meus olhos embaçados pelas lágrimas que não paravam de vir. As
lembranças tapavam minha visão, e desfocavam a mesma.
Mas quando eu finalmente consegui
focalizar, a estrada sumiu, meu pé petrificou sobre o acelerador, como se o
mesmo estivesse tão pesado quanto meu coração; minhas mãos voltaram para o
volante, e agora era apenas um espelho no final do caminho.
Porque com a sua mão na minha mão
E um bolso cheio de alma
Posso dizer, não há lugar aonde não podemos ir
Ponha apenas a sua mão no vidro
Estarei aqui tentando puxar você
Você só tem de ser forte
Não.
Dianna.
Eddie.
Charles.
Joe.
Todos atrás do espelho,
aprisionados, e com uma mão espalmada contra a superfície plana do mesmo.
Esperando−me. Esperando−me colocar minha mão lá também.
Não. Eu não precisava mais ser
forte. Para quê? Por que?
Não mais.
Sim. Eu queria me juntar a eles.
E foi isso que eu fiz, pisando
firme meu pé no acelerador, em uma tentativa de chegar lá mais rápido.
Minha visão estava novamente
embaçada, tanto pelas lágrimas quanto pelas lembranças.
Você
é especial, uma original
Porque
não parece assim tão simples
E
eu não posso deixar olhar, porque
Vejo
a verdade em algum lugar nos seus olhos
Nunca
poderei mudar sem você
Você
me reflete, amo isso em você
E,
se eu pudesse, eu
Olharia
para nós o tempo todo
Meus olhos se fixaram em Joe, e
foram passando por cada par de olhos das quatro pessoas que estavam olhando
para mim pelo espelho. E eu soube que eu não poderia mudar, por que eles sempre
estarão ali, no outro lado do espelho. Sinceramente, eu já passei por muita coisa
para mudar agora.
Pela primeira vez na vida, eu não
quero mudar. Não quero ser melhor.
Ontem é história
E amanhã é um mistério
Posso ver você olhando de volta para mim
Mantenha seus olhos em mim
Mantenha seus olhos em mim
Um dia, Joe falou para mim, que
eu era o melhor para ele. Mas ele provou o contrário.
Um dia, meu pai falou que eu era
dele, mas ele mentiu.
Um dia, minha mãe falou que ela
não precisava de homem, e que ela não ficaria com mais nenhum, mas ela provou o
contrário.
Um dia, Charles me disse que era
um homem feliz, mas ele mentiu.
Todos mentiram para mim, mas eu
sempre fui verdadeira com eles.
Quem mais sofreu nisso tudo? Não
sei. Mas eu acho que fui eu...
Então porque eu não parei de ama−los?
O meu amor só aumentou cada vez mais!
Porque eu não quero perder você agora
Estou olhando bem para a minha outra metade
O vazio que se instalou em meu coração
É um espaço que agora você guarda
Mostre−me como lutar pelo momento de agora
E eu vou lhe dizer, baby, foi fácil
Voltar para você uma vez que entendi
Que você estava aqui o tempo todo
É como se você fosse o meu espelho
Meu espelho olhando de volta para mim
Eu não poderia ficar maior
Com mais ninguém ao meu lado
E agora está claro como esta promessa
Que estamos fazendo
Dois reflexos em um
Porque é como se você fosse o meu espelho
Meu espelho olhando de volta para mim
Olhando de volta para mim
Meus olhos estavam em chamas,
pelas lágrimas; e as lembranças de minha infância gritavam em meu ouvido.
Afundei meu pé no acelerador e
espalmei minhas mãos em minhas orelhas. E em um grito de libertação, e a lei da
inércia batendo minhas costas no banco do motorista, eu entrei no espelho, e o
mesmo explodiu.
Minha cabeça foi direto para o
volante, e sentindo meu sangue quente escorrer por meu corpo, apaguei.
Oh!
Eu
finalmente apaguei.
(...)
Abro os olhos e a primeira coisa
que vejo é meu pai.
Pera ai! Que?
Eddie.
Tento me mover, mas estou um pó.
Quanto tempo eu fiquei dormindo?
Fios saem e entram em meu corpo,
e só consigo mexer minha cabeça para os lados.
Na direita, tem máquinas e mais
máquinas, avisando que eu ainda estou viva.
Merda!
Na esquerda, tem um sofá e uma
poltrona, com um criado mudo do lado, onde tem diversas flores.
Por que flores? Estou morta por
acaso? Que eu saiba, não.
Eddie está do meu lado. Ele está
vestindo um jaleco? Meu prontuário está em suas mãos, e ele finalmente me olha,
espantado.
Seus dedos varrem minha bochecha,
e eu sinto sua maciez.
− Papai está aqui, florzinha.
(...)
− Pai? − ouvi minha voz
perguntar.
Ele sorriu, o mesmo sorriso meigo
e compreensivo de sempre.
O meu sorriso.
Mas o nosso momento foi quebrado,
por outro médico rompendo pela porta.
− Ela acordou, Eddie? − Oh meu.
Era Joe!
Céus. Ele estava acabado! Seu
jaleco branco cobria seu corpo divino.
Ele olhou para mim pesaroso.
− Você não vai mais fugir de mim,
gatinha. − e ele se abaixou, encostando seus lábios suavemente nos meus.
Eu tive vontade de gritar para
ele me beijar forte.
Eu estava com tanta saudade!
Um segundo depois, ele estava na
parede, com meu pai o segurando pela gola.
− Enlouqueceu? − meu pai rugia. −
Por que está beijando minha filha?
Quase podia sentir a saliva de
Joe descendo rasgando pela garganta.
− O que? − Joe perguntava,
pálido.
(...)
− Pai − tentei falar o mais alto
que podia. Tudo doía. − Solta ele. − ri, o que pareceu mais um engasgo. − Ele
era meu namorado. − era.
− Era? − ele agora veio para cima de
mim. − Como assim era, mocinha? − Jesus!
− Pai, eu vivi depois que você me deixou, sabia?
− os pedaços do meu coração saíram junto com minhas lágrimas.
E eu apaguei.
(...)
Descobri as seguintes coisas:
Eu estava em coma.
O hospital em que estava, era
onde Eddie e Joe trabalhavam.
Joe era meu médico, e descobri
depois que Eddie era um pediatra. Ou seja, não tinha nada haver comigo! Mas ele
atendia nesse mesmo hospital, e vinha aqui todo dia, me ver.
Eu tinha ficado um ano em coma, e
três vezes por semana, Nick e Selena vinham me visitar.
Eles adiaram o casamento, me
esperando. Isso me fez chorar. Quem fazia isso? Meus amigos.
Minha aparência não estava
deformada, graças a Deus. Mas eu tinha muitos cortes pelo corpo. Meu rosto
estava quase intacto, já que o mesmo ficou protegido pelo volante.
Eu estava viva.
Eu estava com meu pai.
Eu estava com Joe.
E que se foda o resto!
Isso foi uma nova chance, e eu vou aproveita−la.
(...)
Um
ano depois...
− Eu já falei que ela veio apenas
visitar a filha, Demi! − Joe tentava replicar comigo.
− Que se foda, Joe! Eu cansei! Vá
viver sua vida e me esquece!
Joe me puxou pelo braço.
− Não, Demetria! − falou, severo.
− Eu. Não. Vou. Dividir. Você.
Com. Aquela. Vadia! − falei alto e claro.
Ele enrolou meu corpo com seus
braços, me aprisionando em seu corpo musculoso.
− E você não vai. − me apertou
contra ele. Oh! − Ela só veio se despedir dela. Ela vai morar em Londres,
Demetria. − Que?
Ah sim!
− Que? − eu estava cedendo para
ele.
− Cala a boca e me beija,
gatinha. − e foi isso que eu fiz.
(...)
− Mãe! − Mel gritou. Isso era
música para meus ouvidos. − Mãe! Corre aqui!
− O que foi, Mel? − eu ri,
olhando−a jogada na cama com o notebook do lado.
− Olha que gato! − 12 anos,
quase 13. Por que ela tinha que crescer tão rápido?
Na tela do computador, Ian
Somerhalder.
Alguém tá vendo a poça de baba
no meu lado? Por que eu acho que babei.
− Mãe, fecha a boca. Ele é meu. −
Outch! Mel segurou meus braços e me puxou para ela. Fui aprisionada em seus
braços. Descansei minha cabeça em sua barriga.
Oh sim.
Ela era minha.
− Quem é seu, Mel? − Joe.
− Não acredito que minha
ruivinha está crescendo tão rápido. − Meu pai.
Ele apareceu na porta do quarto
de Mel, vindo atrás de Joe.
− Vovô! − ela me largou
rapidamente e pulou nos braços de meu pai. Ele a segurou pelas coxas.
− É. Você está crescendo rápido,
minha Mel. − Não! Revirei os olhos. Outch! Ciúmes? Ah! Qual é?!
− Fui esquecido. − Joe murmurou,
roubando−me um selinho.
− Sem drama, pai. − Mel riu.
− Sem beijos na minha menina,
Joe. − Meu pai.
Caímos na risada.
Claro; apenas, Mel, Joe, e eu.
Eddie continuou sério.
(...)
Eu e Joe estávamos em mais um
briga.
− Por favor, Demetria. Pare de
gritar! − TPM? Quem dera! É justamente o contrário. Eu não estou menstruando!
É; eu sei que não estar
menstruando não é motivo para reclamar. Mas quando você tem a vida sexual
ativa, e sua menstruação atrasa, é questão de desespero. E quando você começa a
ter diversas tonturas, e numa delas tem que correr para o banheiro e vomitar, o
que é tipo agora, você grita!
Eu estou grávida.
Quero gritar novamente por Joe
ter gritado.
Então para impedir isso, desço
para a sala e encontro Mel e meu pai.
Essa casa vive movimentada. E
ultimamente tudo está me irritando, mas eu não estou de TPM! O que piora tudo.
− Qual é, Demi?! Foi só um enjoo,
e você vomitou. Pronto! Não precisa desse drama.
Fechei os olhos e senti que ia
explodir.
Drama? A merda!
− Não é só isso, Joseph! −
gritei.
− E é mais o que, então? − ele
também se irrita.
− Eu estou grávida, Joe! − Oh! Saiu.
Ele arregala os olhos.
− Você está grávida? − assinto.
− Você não é mais virgem? − meu
pai pergunta, sua voz grossa chocada.
Sério?
Isso me fez olhar para ele com
cara de: ‘’Sério
que você falou isso?’’
− Que foi? É estranho pensar que
minha filhinha tem uma vida sexual ativa. − ele fala, e eu caiu na risada.
Junto com Mel.
Que? Minha filhinha sabe o que é
isso?
Jesus; não!
− Você está grávida. − Joe
repetia, andando de um lado para o outro com um sorriso pateta no rosto.
− Você está grávida. − Já é a
sétima vez que ele repete isso, do mesmo jeito. Andando, e sorrindo, como se
não acreditasse.
− Sim! Eu estou grávida! − eu já
estava impaciente. Então decidi esclarecer a situação para ele.
− Oh meu Deus! Você está grávida!
− seu sorriso ao olhar para mim foi até a sobrancelha.
− Si... − mas eu não terminei,
ele me agarrou, e me beijou.
− Apenas parem. − Mel e Eddie
falaram em uníssono, quando o beijo se estendeu a mais de minutos.
− Eu vou ser pai, de novo! − Joe
falou, abismado.
− Eu vou ser mãe... De novo! − ri.
− Eu vou ser vovô, de novo! −
Eddie falou. O que ele tinha de músculo, ele tinha de estraga prazeres.
− Eu vou ser... Não, pera. − Mel
tentou falar, mas deu falha. E nos rimos.
E foi assim que o dia terminou.
Mais foi só um dia de nossa vida,
de muitos que estavam por vir.
(...)
Em um ano, eu já estava com
Charles nos braços. Meu filho.
Minha mãe soube de tudo, desde
meu coma até o nascimento do meu filho.
Ela aceitou que não foi ela que
me castigou, foi à vida.
Ela aceitou sair da prisão.
Eu aceitei me casar com Joseph.
Eddie aceitou minha mãe de volta.
Eddie aceitou se casar com minha
mãe.
Nick e Selena se casaram, eles
tiveram uma menina.
Eu aceitei a família que tinha.
Por que no fim, essa sempre foi a minha família. Eu só precisava aceitar ela.
Eu só precisava aceitar que eu
era assim, do meu jeito.
Eu só precisava aceitar a vida
que eu tenho.
Por que eles, sempre foram o meu
reflexo.
E eu só precisava aceitar.
E agora, eu finalmente aceitei.
~The End.
Para começar, podem estrangular−me/
matar−me/ esganar−me entre outras forma de morte dolorosa.
Eu sei que deveria ter postado
dia 6, 8 e 10... Mas como a escola enche−me a cabeça, estou aqui hoje.
“Sim e daí? Essa mini fanfic nem
é sua e muito menos veio postar o 28º capítulo” (essas serão vocês, provavelmente, quase a comer−me
viva)
Eu fiz o “acordo” de postar essa
mini fanfic da Becca do blog Apenas Uma Garota Melancólica. Ela foi uma das
minhas inspirações para criar este blog, por isso obrigada Becca.
Crítica acerca da mini fanfic:
Obrigada Dona Becca por reativar o meu vício por essa música perfeita.
Brincadeira, mas agora falando sério. Eu achei a mini fanfic perfeita, está
bem, MUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUITO PERFEITA (serviu até para uma
inspiração #Oopsfaleidemais). Só espero que acompanhem também o blog da Becca
para ter mais ataques de perfeição como estes.
Bjs,
Cissi.
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