Seems like it was yesterday when I saw your face
You told me how proud you were
But I walked away
If only I knew What I know today
I would hold you in my arms
I would take the pain away
Thank you for all you've done
Forgive all your mistakes
There's nothing I wouldn't do to hear your voice again
Sometimes I wanna call you
But I know you won't be there − Hurt by Christina Aguilera
O silêncio tinha sido quebrado pelos barulhos terríveis que eram
ouvidos no andar de baixo. A raiva de Dianna tinha sido despertada subitamente.
Dianna e Demetria eram parecidas nisso, permaneciam caladas até se sufocarem e
depois destruíam-se.
A cada passo as suas pernas ficavam cada vez mais pesadas e lentas,
aquilo era errado e não levaria a lado nenhum.
A água estava gelada, cada gota escorria
até ao seu pescoço nu. As suas olheiras estavam maiores que da última vez, o
seu hábito de chorar todas as noites começava a trazer consequências pesadas.
Os seus lábios, que eram mordidos levemente pelo nervosismo, estavam agora
doloridos e vermelhos. Ela mudou imenso desde há dois anos. Era notável.
Depois de ter o seu rosto enxaguado pela toalha azul-marinho, abriu a
gaveta e notou que a sua lâmina estava no lugar de sempre.
Depois de a tirar, a fazer rodar nos seus dedos, pensar se aquilo
aliviaria as suas dores e os seus desaforos, sentou-se na tampa da
sanita/privada.
Os seus pensamentos estavam
desorganizados como papéis que voam de uma secretária. O certo ou errado pareciam iguais e inexistentes. Era agora ou nada. A sua mente pedia por
apenas um corte para poder aliviar tudo.
Os seus olhos fecharam-se e o
lábio inferior foi mordiscado. Uma leve força foi aplicada sobre a lâmina. A
lâmina fez uma “dança”, a dança do alívio da forma mais cruel.
Os olhos foram lentamente abertos
para se habituarem àquilo, porém aquilo não tinha aliviado o suficiente…Não podiam ser contados os cortes, era demasiado sangue a escorrer. A
agonia misturou-se com o desespero. Uma
vez mais, o caminho escolhido era errado, uma vez mais.
O corpo deu um impulso, quase com vida própria. Ela escondeu a
lâmina na gaveta e caminhou para o seu duche. Ligou a torneira, esperou a água ficar
morna. Entrou vestida, era tão estúpido entrar vestida, mas isso era insignificante
comparado a todos estes problemas.
As lágrimas eram misturadas com a
água. As suas mãos batiam com força na parede pelo desespero, medo, insegurança e por se manter calada. A sua raiva era maior que ela. Só que não havia nada
a fazer.
Thursday, 08:25 P.M. Lovato’s
House, Santa Barbara CA
Demetria decidiu deixar de lado toda
a sua raiva e orgulho, a sua mãe precisava de si, tal como ela precisava da sua
mãe.
Tudo estava silencioso, de novo. A sua mãe devia estar na
cozinha, como de costume.
− Mãe? – Demetria chamou-a com receio atrás da porta. Dianna
virou o papel que escrevera, pareceu-lhe que foi surpreendida pela filha.
− Demi? – Dianna limpou as lágrimas e levantou-se. – Por favor,
vem cá. – Ela pediu-lhe. Demetria fechou a porta e avançou para os braços da
sua mãe. As duas desfizeram-se em lágrimas salgadas de dor. As duas foram
escorregando até os seus joelhos baterem no chão gelado.
− Tive tantas saudades suas, mamã! – Demetria confessou e Dianna confessou
as suas saudades pelo toque da filha, também. Elas ficaram naquela cena de se
acarinharem por uma bela meia hora.
Friday, 10:56 A.M. Lovato’s
House, Santa Barbara CA
Demetria despertou pelos finos
raios que transpassavam as pequenas fissuras entre as cortinas. Estava calor pela
manhã, pela primeira vez nesta
primavera. Demetria caminhou devagar para não acordar Dianna.
…
Depois de se ter vestido foi comprar
algo para o almoço e passou depois no bar para deixar as encomendas que D.ª
Ricci encomendou à sua mãe.
Friday, 11:19 A.M. Bar, Santa Barbara CA
− Ecco i vostri ordini,
Ricci signora. − Demetria
falou fluentemente palavras num italiano natural. Demetria aprendera algumas
coisas com a senhora de idade que era italiana. Demetria e Dianna, inclusive,
passaram as suas férias de verão em Itália com Dª Ricci.
− Demi! Que bom ver-te! – A senhora virou costas ao balcão e abriu
os braços pequenos em direção a Demetria. – Como vais?
− Vou andando. Por aqui parece ir tudo de vento em popa. – Demetria olhou para a quantidade de clientes e
notou alguns que chamaram a sua atenção, ficou
incrédula.
− Claro! Eu e o meu marido estamos a planear ir a Itália neste
mesmo ano visitar a nossa família. – O seu sotaque era evidente, sobretudo em “Itália”.
− Fantástico! Espero que tudo corra bem, Dª Ricci! Agora, se me
dá licença, tenho de regressar a casa para cuidar da minha mãe. – Elas
abraçaram-se pela última vez. Demetria atravessou o salão e sentou-se na
cadeira vaga da mesa de um grupo de amigos.
− Vocês fazem uma reunião e nem me convidam? Essa doeu. – Demetria
fez cara de ofendida.
− Eu tentei ligar, mas dizia que estavas indisponível. – Jonas
batia de leve no celular. Ashley parecia uma cola, houvesse paciência.
− Ah… Houve uns problemas… − Tentou disfarçar. Selena olhou-a com preocupação. – E para quê uma
“reunião”?
− A minha mãe organizou um jantar para a família e amigos
próximos. – Falou. – E é hoje, às oito e um quarto.
− A tua mãe tem sorte em eu gostar muito dela, porque a minha
vontade de sair e ver pessoas é nula. – Selena e Demetria disseram em coro.
Friday, 11:33 A.M. Lovato’s
House, Santa Barbara CA
− Mãe! Cheguei! – Demetria gritou.
− Pare de gritar, menina! Estou aqui! – Dianna riu. Ela já estava
a preparar a comida. O seu sorriso estava de volta, embora lhe parecesse um
pouco magoado.
− Desculpe, pensava que estava na sala a escrever ou algo do
género. – Demetria desculpou-se atirando uma indireta ainda sobre ontem.
− Sim, eu já terminei de escrever o que eu queria. – Demetria
sorriso e ajudou Dianna.
Friday, 01:24 P.M. Lovato’s
House, Santa Barbara CA
− E esse jantar é às oito e quarto? – Dianna perguntou a Demetria
sobre o jantar.
− Sim. Não me diga! Você e a Denise passaram novamente duas horas
ao telefone. – Demetria riu
− Sim! Há muito tempo que não matávamos saudades. − Dianna riu juntamente com Demetria.
– E quando se vão assumir?
− Assumir? Quem? O quê? – Demetria cuspiu toda a água, na
verdade sabia do que se falava.
− Demi, achas mesmo que eu não sei? Não te podes enganar a ti
mesma. – Dianna olhou-a profundamente como se lesse a sua alma.
− Mãe… – Demetria suspirou e encolheu-se na cadeira.
− Oh meu amor… Vai tudo dar certo. “ As nossas dúvidas são traidoras e fazem-nos perder o que, com
frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar”. Isto é Shakespeare. – Dianna sorriu-lhe
e abraçou-a. – Agora vai-te divertir. Aposto que a Denise já expulsou toda a
gente de casa. – Demetria cumpriu a “ordem”
da sua mãe.
Ela sabia muito bem onde os
encontrar, afinal Denise expulsou-os no final do almoço. O único lugar bom para
se conviver era o bar.
Friday, 02:18 P.M. Bar, Santa Barbara CA
O barulho das batidas nas mesas,
das pessoas a conversarem, as apostas amigáveis… Tudo isto era bom.
− Olá, de novo! Novidades? – Sentou-se na cadeira que continuava
vaga. Sentiu olhares sobre si.
− Olá, Demi! Bom, estes são os nossos “amigos”. Eles vão animar a festa de aniversário do Wilmer. – Selena
esclareceu-a.
− Ah claro! O Wilmer. –
Wilmer era um primo bem distante da família Jonas. Nunca estava presente nas festas da família, nunca ninguém se entendia muito bem com, afinal, era machista e
outras coisas terríveis que não lembram a ninguém. – Ele convidou a família
para a festa?
− Todos os adolescentes da cidade. – Ashley fez-se notar.
− Ele é louco? Não vai nas festas da família e depois dá uma festa
de aniversário e convida até desconhecidos? – Selena protestou.
Friday, 06:20 P.M. Gomez’s House, Santa Barbara CA
− Achas mesmo que este jantar vai dar certo? – Demetria tirava a
roupa para um canto do quarto de Selena que a obrigou a preparar-se na sua
casa.
− Que raio de pergunta é essa? – Selena saía do duche com uma
toalha enrolada no corpo e outra no cabelo.
− Só um pressentimento… −
A sua voz parou e o seu corpo girou para olhar para trás. Selena tinha um olhar
assustado.
− Demi, tu andas muito estranha. Passa-se alguma coisa contigo? Fala,
menina! – Selena estava mais apavorada que a própria Demetria.
− Nada. Só senti um cheiro a rosas. – Selena cheirou e negou.
− Okay, vamos arranjar-nos e ficar divas? – Selena abanou a
cabeça e puxou-a.
Elas pegaram em vestidos pouco
elaborados, afinal era um jantar e não uma gala. Tinha de ser formal mas não muito. Tal como a maquilhagem que
ficou leve.
− Vou passar ainda na casa da minha mãe, sim? – Demetria passava
perfume no seu pescoço e atrás das orelhas enquanto Selena delineava os seus
lábios com lápis vermelho.
− Claro! Vou apenas colocar perfume e vou já para casa dos Jonas.
– Demetria fechou a porta. Andar alguns minutos em saltos não era fácil, a
única vantagem era que o caminho dava bem para caminhar.
− Mãe! – A voz ecoou o suficiente para ser ouvida em boa parte da
casa. Ela caminhou e viu uma espécie de carta em cima da mesa onde pousavam as
chaves.
“Eu sei. Eu sei que quando estiveres
a ler esta carta, já não estarei mais aí perto de ti. Não queria que nada disto
fosse assim, desta maneira. Mas se foi desta maneira, foi porque teve de ser.
Enquanto oiço o som do coração
ansioso e nervoso sem saber o porquê destes sentimentos banais. Este pode ser o
melhor momento para alguns, mas para outros será o desespero agonizante, isto
refere-se a ti, minha Demetria.
Fui apenas eu, nós e outras pessoas
importantes, que fizeram parte do elenco principal da tua vida. Só que está na
hora de enfrentar os teus demónios interiores. Sabes muito bem a quem me quero
referir. Enfrenta-os, nem que seja para dizer “Eu não te aceito e nunca mais me
incomodes!” Afinal, não precisamos matá-los para os enfrentar.
Algo que te queria dizer sobre as
pessoas importantes é que não estás a enxergar o especial, ou não estás a fazer-te
sobressair de modo a seres avistada. Acho que vocês dariam netos lindos. Talvez
esteja a ir longe demais, este é apenas o fim de um ciclo. Não te desesperes,
minha querida. Quando uma porta se fecha outras são abertas.
Tenta, pelo menos, amar por dois segundos
quem tu pensas que é teu inimigo. Na verdade, nem teu inimigo é. Dá uma chance
a quem é apenas o bobo da corte da história mais incrível imaginada.
Deves estar a chorar horrores,
agora. Sempre foste uma menina forte e durona, mas todas as noites choravas,
pedindo um pouco de consolo a quem nem conheces. Sim, eu sempre ouvi…
Sabes na última noite, quando pediste
para nos entendermos e parar de idiotices? Nós sentimos os nossos corações
cheios de amargura e pensamentos escuros, só que nessa escuridão existia um bom
princípio. Mais uma coisa, eu quis fazer uma reconciliação, porque não queria
que dissesses “A última vez, nós discutimos…”, seria um grande egoísmo da minha
parte, acredita.
Aonde quer que esteja, eu estarei
lá para te ajudar. Olharei por todos vocês, até pela Ashley. Não te massacres
porque alguma coisa deu mal, se deu mal foi porque precisou dar mal. Não
funcionaria se tivesse dado bem. Eu acredito que tu és uma menina frágil e
forte, com o coração de ouro, tu és o anjo que todos precisam.
Vive a Vida tal como ela é, não
tentes modificar as tuas escolhas…
Com Carinho,
Da tua mamã.”
Ela não sabia ao certo o que
aquilo queria dizer, as suas mãos tremiam e os seus olhos enchiam-se de água. O quebrar de um copo.
− Mãe! – Ela gritou o quanto pode. Ela entrou no seu quarto e viu
a sua mãe deitada inconsciente e um copo a rolar rodeado de comprimidos. O seu
desespero era maior que o medo, as suas reações congelaram, literalmente.
Ela pegou no seu telemóvel/celular
e marcou o número de Selena.
−Estou sim? – Uma voz masculina
soou.
− Ah… A minha mãe, ela está
inconsciente! – Ela gaguejava, tudo parecia ter sido obra de um pesadelo.
− Demetria? Eu vou já para aí. Tem
calma! – Ele falou e o seu telemóvel/celular caiu ao chão enquanto ela tinha
sido uma vez mais quebrada.
Continue…